Kaká e a Transf Milionária: Dinheiro ou Carreira?
Tenho ouvido muitos comentários, opiniões e discussões sobre uma suposta “proposta indecente” do Manchester City da Inglaterra para o jogador brasileiro Kaká, atualmente no italiano Milan.
Salário é uma coisa muito pessoal, e se fôssemos politicamente corretos ao extremo, quanto ganharia ou ganhará um atleta é um ponto indiscutível. Mas pelas altíssimas cifras, é importante relacionar dinheiro, projeto profissional, lisura nas finanças e viabilidade econômica.
Os números divulgados (abaixo, as devidas citações) dizem que o Manchester City oferecera R$ 380 milhões pelos direitos federativos do atleta, aproximadamente 100 milhões de euro.
Tal valor representaria a maior transação do futebol em todos os tempos. Tudo bem que alguns possam dizer que isso não é despesa, mas sim investimento. Calcule o retorno de mídia, o preço dos amistosos, o aumento no custo dos ingressos e, principalmente, a venda de camisas. Zinedine Zidane, quanto trocou a Juventus pelo Real Madrid, foi pago com a venda de camisas. Na época, seu passe custou 76 milhões de dólares.
Portanto, investir em Kaká traria retorno financeiro e prestígio ao clube inglês. Mas um detalhe: estou ouvindo a velha questão: “mas e a origem do dinheiro?”, levantando as suspeitas de uma possível “lavagem de dinheiro” através dessa transação. Ora, a Inglaterra é costumeira em ter quadrilhas lavando dinheiro no futebol, e o próprio M. City, recentemente, teve sob seu controle o ex-primeiro ministro Tailandês, que houvera sido deposto por corrupção no seu país e condenadíssimo pela justiça. Mas, ao contrário do que possa parecer, o dinheiro é quente! O atual proprietário, o grupo árabe Abu Dhabi United Group, é poderosíssimo, e todo o dinheiro vem de um Fundo Soberano do principal Emirado Árabe daquela região. Só as reservas de petróleo que possuem (fora os inúmeros outros negócios), estão avaliadas em R$ 2,3 trilhões ! O que é 100 milhões de dólares para quem tem 1 trilhão?
Se analisarmos o negócio como evento midiático, seria sucesso absoluto. Ou alguém duvida que o time faria excursões pelo mundo árabe, mostrando as estrelas Robinho e Kaká da seleção brasileira a um honorário viável?
A proposta de salário é tentadora. Atrualmente, Kaká ganha o equivalente a 800 mil reais por semana no Milan. Receberia o dobro: 1,6 milhões / semanais. Robinho, seu possível novo companheiro de clube, recebe 55 mil reais por dia. Novamente, dinheiro não é problema.
Problema poderia ser a gestão administrativa do clube: o dono do grupo árabe é o xeque Sulaiman Al Fahim, admirador e fanático por futebol brasileiro. Para assessorá-lo nos negócios do clube, contratou… o iraniano Kia Joorabchian! Lembram dele? Ele mesmo, o antigo homem forte da parceria extinta Corinthians-MSI. Seria ele a pessoa ideal para administrar tais negócios de alto valor no futebol?
Mas passemos agora para o lado do jogador Kaká. Ele deveria trocar de clube para ganhar tais cifras astronômicas? Afinal, um mês de salário dele garantiria muitas gerações de pobres brasileiros (embora, conforme dito anteriormente, salário é algo pessoal – mesmo sendo revoltante tanto gasto de dinheiro). Valeria a pena?
No Milan, ele disputa títulos e pode vir novamente a ser o melhor do mundo, como o foi em 2007. O Manchester City garantiria exposição suficiente para isso? Fora o dinheiro, o que poderia fazê-lo trocar de clube? Quais as motivações e desafios extraeconômicos?
Com uma carreira vitoriosa, talvez a busca de novos desafios seria uma resposta válida. Mas no Manchester City, que, respeitosamente, não é mais grandioso que o Guarani de Campinas, se compararmos as conquistas dentro de campo. Faça uma análise dos títulos, de permanência na elite e até de posição geográfica de suas cidades-sedes. Equivalem-se! Surpreso? Ousaria dizer que, tirando-se o mérito financeiro, o “Bugre” Campeão Brasileiro de 78 é maior que o “Blue” BiCampeão Inglês.
Kaká tem simplesmente uma questão a resolver: Dinheiro ou Carreira? Ganhar ainda mais e abdicar de títulos por clube, ou continuar lutando por conquistas, já que “mais dinheiro”, olha que loucura, pode ser dispensável?
Para títulos e prestígio, a resposta milanista é óbvia. Estar no futebol da Velha Bota, com o respeito adquirido, é meio caminho andado para figurar como melhor da década. E é esse o último ponto a discutirmos: a tradicionalíssima eleição dos melhores da década do diário esportivo “Gazzetta dello Sport”. Embora não seja muito badalada por aqui, a mesma é respeitada no continente europeu. Instituída desde a década de 50, veja o nobre elenco vitorioso até então:
Década de 50: Di Stéfano e Puskas;
Década de 60: Pelé e Eusébio;
Década de 70: Cruyff e Beckenbauer;
Década de 80: Maradona e Platini,
Década de 90: Zidane e Ronaldo.
Década de 00: a definir.
Pela importância dada a essa premiação na Europa, figurar entre estes monstros do futebol é um prazer indiscritível. Nas últimas pesquisas, estão na frente postulando esse lugar o próprio Kaká e o argentino Lionel Messi. Correm por fora Cristiano Ronaldo, Ronaldinho, Rooney, Beckham, Pirlo, Buffon.
Para esse projeto, provavelmente jogar no M. City seria um revés na votação.
Textos-base:
Folha de São Paulo, ARRUDA, Eduardo & PERRONE, Ricardo. Kaká hesita em tomar rumo de Rubinho. pg D1, 15/01/2008.
Folha de São Paulo, BUENO, Rodrigo. O Melhor da Década.pg D2, 15/01/2008.
Rádio Jovem Pan, Jornal de Esportes, 14/01/2008.
SportvNews, TV, Canal 39 Sportv, edição de 15/01/2008, 08:30-09:30.
