Após o novo acordo ortográfico, muitas palavras estão “diferentes”, para não dizer, engraçadas. Olha só:
– Conjugue rápido moer na primeira pessoa do singular – no presente:
Eu moo.
– Quando você está inspirado, a mil por hora, você está com o que elevado?
Com a Ad-renalina.
Se você tem sucesso na vida, você é uma pessoa:
– Bensucedida.
Não ficou estranho?
Compartilho tais observações extraídas do interessante texto do escritor Ruy Castro, em sua coluna deste sábado, distribuida para várias mídias, em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1001200905.htm&COD_PRODUTO=7
Eu coo, eu moo
RIO DE JANEIRO – Não olhe agora, mas tenho a impressão de que a reforma ortográfica, que está queimando as pestanas dos que vivem da língua portuguesa -professores, jornalistas, escritores, editores de livros, locutores de TV e rádio, publicitários-, foi feita só para suprimir o trema. É o único ponto sobre o qual ninguém parece discordar.
O atroz dilema do hífen -co-habitar ou coabitar?-, o degredo do acento agudo de palavras como jibóia e averigúe e a horrível morte de certos circunflexos estão levando gramáticos às fuças. Sem o chapeuzinho, por exemplo, como conjugar verbos como coar e moer? Eu coo, eu moo? Muitos se rebelam contra tais alterações e ameaçam ir às últimas para não ter de escrever antissegregacionismo, bensucedido ou ad-renalina.
Enquanto isso, os dois inocentes pontinhos sobre lingüiça, qüinqüênio, pingüim etc. foram varridos pelos lingüistas sem a menor contemplação, como se contaminassem a escrita com sarna ou beribéri. Na verdade, para muitas pessoas, o trema já vai tarde, porque elas nunca o usaram, com ou sem reforma. Pois, a partir de agora, quero ver alguém se sair bem numa argüição, a começar pela pronúncia desta palavra sem o trema.
Um dos argumentos para a reforma é a de que a dupla ortografia impedia a difusão da língua portuguesa no exterior. Temo que, com o acordo, a língua continue secreta fora dos países lusófonos, mas, pelo menos, estará unificada.
Unificada? Para meu orgulho, já tive alguns livros traduzidos para inglês, japonês, alemão, espanhol, italiano, russo e polonês. É natural -como poderiam ser lidos naqueles países se não fosse assim? Mas nunca entendi por que um deles, “Carmen – Uma biografia”, ao ser lançado em Portugal, teve de ser radicalmente traduzido do português para o… português.
