No futebol, como um microambiente da sociedade, vê-se de tudo. E a falta de escrúpulos também. Até ação humanitária para ajudar criança doente é praticada para explorar o próximo.
Em Portugal, neste domingo, estorou um golpe envolvendo um ex-árbitro de futebol e o clube FC Porto. Veja que golpe extremamente inteligente e nefasto, aplicado contra os dirigentes.
Me questiono: será que os dirigentes não ficaram com o “rabo-preso” durante a doação, a realizaram com segundos propósitos ou o fizeram realmente com boa intenção?
Segue o curioso caso em:
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1070368
Ex-árbitro acusado de burlar F.C. Porto em 10 mil euros
Apelo no sítio do clube na Net para falso transplante de coração também enganou empresas
por NUNO MIGUEL MAIA
Um ex-árbitro de futebol foi acusado pelo Ministério Público do Porto por crime de burla. Como vítima no caso surge o F. C. Porto, clube que concedeu donativos para pagar um falso transplante ao coração de um filho em Barcelona.
O embuste iniciou-se com a recepção, no Estádio do Dragão, de uma carta dirigida aos vice-presidentes do F. C. Porto, Reinaldo Teles e Fernando Gomes. Na missiva, datada de Outubro de 2007, assinada por Pedro Pinheiro, 35 anos, era relatada uma situação dramática que estaria a ocorrer com um menino de 10 anos. A criança, que jogava futebol, necessitaria de um transplante de coração e o pai estaria em graves dificuldades para pagar a cirurgia no Hospital Bellvitge, em Barcelona, Espanha.
O valor indicado na carta como custo da operação era de 3890 euros e era sublinhado que as despesas de internamento e estadia ficariam por conta da família. A carta foi parar às mãos do director-geral do clube portista. E Antero Henrique sentiu-se tocado no coração. Apesar de, a meio do pedido de ajuda, o ex-árbitro ter aludido a um jogo do clube azul-e-branco em que tinha sido fiscal-de-linha – contra a Naval 1.º de Maio, em que o F. C. Porto venceu, por 2-1, com uma grande penalidade assinalada nos últimos instantes.
O homem forte do futebol portista chegou ao ponto de, após um contacto telefónico inicial, se encontrar pessoalmente com o ex-árbitro, residente no Seixal. Na conversa ficou a saber que, afinal, o coração transplantado no filho era de uma criança de 13 anos que nunca tinha praticado desporto e que, por isso, era necessário prolongar o internamento e a estadia da mãe em Barcelona por alguns meses. De outra forma, o seu filho nunca mais poderia jogar futebol e perder-se-ia uma promessa de craque. Eram necessários, no total, entre 25 mil a 50 mil euros.
Perante este cenário, os dirigentes do F. C. Porto decidiram transferir de imediato 10 mil euros para uma conta da Caixa Geral de Depósitos indicada por Pedro Pinheiro. Além disso, contactaram patrocinadores e colocaram no sítio do clube Net um pedido de ajuda. A “Fogões Meireles” aceitou dar 12 mil euros e a “Graphicsleader” dois mil (nenhuma das verbas foi transferida), enquanto anónimos concederam outros dois mil, num total de 26 mil euros.
Mas foi este anúncio que acabou por precipitar a descoberta da burla. O “Atlético Arrentela”, clube onde joga o filho, e a ex-mulher denunciaram a falsidade da situação. O que levou o F. C. Porto a participar o caso ao Ministério Público.
Só que, mesmo depois da queixa, a “novela” prosseguiu. De acordo com o processo, consultado pelo JN, durante dias a fio Pedro Pinheiro enviou mensagens para o telemóvel de Antero Henrique, pedindo a desistência da participação-crime e dizendo-se pressionado por televisões e jornais para dar entrevistas.
Mostrando desespero, o ex-árbitro exigiu que o F. C. Porto lhe pagasse pelo menos mais cinco mil euros, indicando inclusive uma conta do Banif. Alegou que precisava de dinheiro para pagar a casa e um advogado para poder disputar a guarda do filho em tribunal e de um emprego. Ao mesmo tempo, foi sugerindo que o melhor era fugir para o Canadá “durante dois ou três anos” para ser esquecido em Portugal e não provocar um escândalo.
O ex-árbitro elevou o tom da ameaça e chegou a dizer que se o F. C. Porto não satisfizesse as exigências “há muita coisa que se vai saber de jogos passados”, afirmando, até, que foi contactado por alguém do Benfica: “Recebi um telefonema daquele senhor Daki do vermelho”. As mensagens foram guardadas pelo dirigente portista, que entregou o telemóvel no Departamento de Investigação e Acção penal (DIAP) do Ministério Público do Porto. O ex-árbitro foi agora acusado por crime de burla, punível com até três anos de cadeia.