Para quem gosta de futebol, sabe que um dos assuntos mais discutidos na última semana foram as “paradinhas” nas cobranças de pênalti dos jogos do Palmeiras.
Tudo começou com uma orientação da Comissão de Árbitros da CBF, e uma polêmica interpretação errada por alguns. Uma confusão danada… O certo é que a regra diz claramente: finta faz parte do futebol; então, paradinha pode! Pelo que vejo, os envolvidos na arbitragem estão discordando do entendimento do excesso da cobrança, pois a mesma regra diz que atos antidesportivos devem ser coibidos. E o que é esse excesso antidesportivo? Seria, por exemplo, na hora de chutar, virar o corpo e cobrar de calcanhar; ou passar o pé sobre a bola depois do goleiro caído e chutar com menosprezo; lances dessa natureza… Se isso ocorrer, pelo texto da regra, entendo que o gol é válido e deve-se aplicar o cartão amarelo ao cobrador. Ou seja: a cobrança valeu, mas poderia ter sido menos antidesportiva. Para você entender melhor: É a mesma relação de um jogador que faz o gol e comemora provocando a torcida adversária, ou seja, o gol é válido, e você aplica o cartão amarelo ao marcador pela atitude. Anular o gol ou mandar bater de novo, nunca! (Embora, alguns defendam que o pênalti deva ser cobrado novamente, ou até mesmo, absurdamente, que se marque um tiro indireto. Ora, não podemos esquecer que se há pênalti, não se pode beneficiar o infrator).
Muito tem se falado de que a paradinha é uma covardia. Mas o futebol é assim! O goleiro também tem direito de fazer isso. O goleiro Sérgio (atualmente Portuguesa e anteriormente pelo Palmeiras) fica sambando em cima da linha de meta. Não há problema algum. Outro exemplo: o que impede o goleiro, na hora do pênalti, ficar do lado de um dos postes de meta, deixando o gol escancaradamente livre? Imaginem a cabeça do cobrador, como ficará? E tudo isso vale!
Continuando, o colega e amigo Cléber Abade enviou um esclarecimento público à todos, em especial por email à alguns amigos árbitros. Recebi sua mensagem, e reproduzo nesse espaço. Parabenizo o Abade pela coragem em esclarecer publicamente. Entre as fofocas de bastidores e a palavra do amigo, dou crédito ao árbitro.
Abaixo, a reprodução de sua mensagem:
Tendo em vista várias reportagens com informações referentes ao diálogo mantido entre mim e o atleta Alex Mineiro, da S. E. Palmeiras, antes da cobrança da penalidade máxima durante o jogo contra a A. Portuguesa Desp., venho a público esclarecer:
1 – No dia do teste teórico da CBF, solicitei orientações aos instrutores a respeito da encenação, popularmente conhecida como “paradinha”, no momento das cobranças de pênaltis e também sobre a partir de que situação ela passaria a ser considerada uma atitude antidesportiva. A resposta que obtive é que assim ela seria considerada se o atleta executor da cobrança passasse o pé sobre a bola.
2 – Na partida em questão, disputada em 24 de agosto, logo após a marcação da penalidade máxima a favor da S. E. Palmeiras, fui alertado pelos atletas da A. Portuguesa Desp. sobre o fato que o atleta executor, no caso Alex Mineiro, costuma cometer excessos na “paradinha”. Respondi a eles que estaria atento e que qualquer irregularidade estava proibida.
3 – Fui questionado, em seguida, pelo próprio jogador Alex Mineiro, que me perguntou o que ocorreria se ele fizesse a paradinha. Eu lhe respondi que, caso cometesse algum excesso, em caso de gol o tiro seria repetido, e na hipótese de “não gol” um tiro livre indireto seria marcado a favor da A. Portuguesa Desp. O referido atleta cobrou o pênalti sem irregularidades e o gol foi validado.
Ocorre, porém, que alguns fatos inverídicos foram divulgados pela mídia, os quais desminto agora:
1 – Em momento algum disse a quem quer que fosse que a “paradinha” estava proibida.
2 – Em momento algum recebi orientação de quem quer que fosse a respeito de coibir a cobrança do tiro penal com a “paradinha”.
3 – Em momento algum, mesmo tendo o dever de advertir o jogador Alex Mineiro sobre uma possível atitude antidesportiva, jamais ameacei adverti-lo com o cartão amarelo caso assim ele procedesse.
Por fim, gostaria de me desculpar com a S. E. Palmeiras se, mesmo de forma involuntária, criei alguma pressão psicológica sobre seu atleta, e também aos árbitros que, em razão das notícias veiculadas de forma incorreta e com dados inverídicos, enfrentaram dificuldades em lances penais durante outras partidas.
Justamente por jamais imaginar que um simples diálogo no campo de jogo pudesse criar tanta polêmica, informo que não mais adotarei este tipo de atitude, até porque é dever do atleta profissional ter pleno conhecimento das regras do jogo que pratica.
Cléber Wellington Abade
Árbitro CBF
