O Orkut e a Fé

Reproduzo ótimo texto enviado pelo Diácono da Paróquia São João Bosco – Jundiaí / SP,  (a qual pertenço), Benedito Pedro Toledo de Oliveira, sobre a constante e comum afirmação no Orkut de muitos sobre “Religião”. Interessante argumento que vale a pena refletir!

 

fonte: Padre Sandro Rogério dos Santos Adm. Paróquias de Caiuá e de Piquerobi – Diocese de Presidente Prudente-SP

TENHO UM LADO ESPIRITUAL INDEPENDENTE DE RELIGIÃO

 

No site de relacionamentos Orkut existe na apresentação (perfil) a possibilidade do associado revelar ao público (ou apenas aos amigos da lista) a religião à qual “pertence”. De pronto me chamou atenção o fato de que nas opções religiosas o indivíduo possa identificar-se como quem tem “um lado espiritual independente de religião”. Faz algum tempo reflito sobre essa questão.

Religião vem da língua latina “religare” (ligar-se novamente à fonte de onde se veio ou a um projeto comum de origem). Daí, assumir um lado espiritual é já admitir uma religião. Então, como fica a afirmação inteira? Bom, acredito que quando alguém diz ter um lado espiritual independente de religião está afirmando que, embora se sinta marcado por uma “força maior”, não aceita regras “impostas” em sua vida. Não reconhece limites, pois está formado na atual mentalidade de que ser livre é fazer tudo o tempo todo. De pronto, nada mais ilusório e vazio.

Os homens e as mulheres que têm lado espiritual independente de religião sentem-se livres até o sofrimento bater à sua porta; até a tragédia mostrar-se em suas vidas ou próxima das deles. Vi alguns se queixarem com complexos de culpa por atos cometidos, mas não conhecem o Deus de Jesus Cristo. O Deus, “pai das misericórdias”, que por amor enviou o próprio Filho para salvar a ovelha perdida, e todos aqueles que estão doentes!

Talvez a expressão adequada aos espirituais sem religião fosse “sou da religião do tudo posso, ninguém me controla”. Pena que a vida “anárquica” não encontra sentido nem espaço no ordenamento social que estabelecemos e vivemos. Tenho a sensação de que quanto mais se quer negar a religião mais religiosamente se vive. Algum filósofo chegou alardear a “morte de Deus” e, se Deus morreu, tudo é permitido.

No exercício do ministério sacerdotal vejo inúmeros “religiosos sem religião” esporadicamente indo à (qualquer) igreja. Rezam pelos seus mortos, casam-se, preocupam-se (?) em batizar os filhos ou pelo menos aceitam “com gosto” serem padrinhos de filhos alheios. Caminhamos para e pôr épocas estranhas. A indiferença religiosa solapa Deus das decisões que exigem mudanças pessoais, mas O colocam no centro das saídas quando a situação não dá mostras de se resolver “humanamente”.

Seria necessário dizer que para tais pessoas ir à missa ou ao culto evangélico ou ao terreiro ou a sessão espírita não faz diferença alguma? Pois é, estamos na cultura religiosa do “self-service”. O Brasil é farto em religiões e com isso no sincretismo (que assimila gestos e ritos de variadas expressões religiosas). Pega-se um pouco de cada uma e faz-se a sua própria. Deus não lhe causa motivos para conversão. Pois Ele foi convertido num “deus” tapa-buracos, caixa-eletrônico (donde se sacam graças e bênçãos na hora que o “fiel” precisa)…

Como simples exemplo do que se disse acima, um levantamento realizado em 21 países constatou que o Brasil possui a terceira população jovem mais religiosa do mundo. Segundo pesquisa do instituto alemão Bertelsmann Stiftung, 65% dos jovens brasileiros são considerados “profundamente religiosos”. No Brasil, 65% dos jovens se declaram profundamente religiosos, 30% se dizem religiosos e 4% afirmam não ter religião. Apesar de 74% dos brasileiros declararem que rezam diariamente, somente 35% disseram viver de acordo com os preceitos religiosos.

Para Flávio Pierucci (professor de sociologia na USP), a religião representa, nas vidas das pessoas, uma “pequena oração diária, no máximo, um ou dois minutos”. “Então você tem uma situação aparentemente contraditória –uma população muito religiosa, como a brasileira, que gosta de religião e a respeita, a pesquisa mostra bem isso”, afirma o sociólogo. “A sociedade brasileira valoriza a religião, mas não segue nenhuma, porque elas costumam ser muito exigentes. Há apenas uma minoria que segue, o resto não tem nem tempo para isso.”

fonte: Padre Sandro Rogério dos Santos

Adm. Paróquias de Caiuá e de Piquerobi

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