A Fanfarronice Antidesportiva

 

Abaixo, impelido pelo desejo de compartilhar possível fato lamentável do futebol (esporte do qual nós árbitros convivemos em nosso honesto trabalho, cujo sentimento sobre o fato a seguir certamente a maioria repudia), envolvendo a marmelada (e uso esse termo já que o TJD da FPF impugnou o jogo) da partida que classificou para a séria A1 as equipes do Oeste e Mogi Mirim, no quadrangular decisivo da A2.

Segue texto do respeitadíssimo jornalista Mauro Beting, publicado no Jornal Lance de 16/05/2008, em sua coluna:

(Nota – não opino sobre o texto por conduta ética e impedimento de minha atividade, apenas expresso o lamento da situação antidesportiva, e parabenizo o Tribunal de Justiça pela decisão – não entrando no mérito de defender ou não a eliminação das equipes, como alguns têm feito, pelos mesmos motivos que me impedem de tecer tais comentários, apesar de ter meu juízo já formado)

Tropa de elite – É o futebol brasileiro fanfarrão que pede pra subir

Segundona paulista: intervalo de Mogi Mirim x Oeste. O empate sem gols classifica para a Série A-1 o time de Itápolis. O dono da casa também voltaria à elite se o Atlético Sorocaba vencer o clássico contra o São Bento, realizado ao mesmo tempo.
Quer dizer… Quase: porque o goleiro Fernando (Mogi) “torce” o tornozelo na volta do vestiário. Quando se “recupera”, Gledson, goleiro do Oeste, tem um “problema” e cai no gramado. Rindo, o árbitro Guilherme Cereta de Lima vai até ele para acelerar o reinício de jogo.
Enquanto isso, os treinadores Argel (Mogi) e Roberto Fonseca (Oeste) conversam… Argel diz que relembram histórias dos tempos de jogadores… Época em que era comum o arranjo de resultados.
Aos 25 minutos, Gilberto abre o placar em Sorocaba. Um a zero Atlético. O resultado classifica Oeste e também o Mogi. Bastaria manter o empate entre eles. Ao saber do gol que classifica os dois, o treinador do Oeste exulta:
– Ó, meu Deus! Que maravilha!!! Argeeeeel!!!!
E berra para o treinador do Mogi. Na maior cara-dura. Eles que já mandavam sinais de arranjo na fuça do quarto árbitro(Jorge Torres) não se seguram: abertamente trocam idéias e orientações. Os times, então…
Até o final do jogo, dos 25 aos 45min43, apenas duas bolas são cruzadas na área do Oeste. E só. O Mogi chega a ficar quase 9 minutos com a bola aos pés, na defesa. Nem o River Plate dos anos 40 tinha tamanha posse de bola!
Aos 30 minutos, a própria torcida do Mogi começa a vaiar. Aos 34, o artilheiro Luizinho vai entrar em campo, pelo Oeste. Perguntado pela reportagem se ele entraria pela primeira vez na carreira para NÃO fazer um gol, desconversa. E, só depois do fim do jogo, admite que a ordem para segurar a bola vinha lá de cima. Não do céu, claro.
Luizinho leva três minutos para entrar: a bola não sai, não há falta, não há chute. Nada há de futebol. A ponto de Argel berrar para um jogador do Oeste cair no gramado, aos 42 minutos. A ponto de Fonseca reclamar com Argel de que um jogador do Mogi está indo para a área rival… Onde já se viu!? Tentar ganhar o jogo e ficar com vantagem nas finais?!
Era demais. Tanto que o assistente-técnico do Oeste foi até o banco do Mogi para conversar com Argel. No meio de uma decisão. Embora tudo já estivesse decidido.
Não foi a primeira vez. Não será a última. Mas que seja ao menos a última tão descarada, tão debochada. Que ao menos não se faça com uma encenação de segunda.

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