Árbitro: um simples bode expiatório

Amigos, a expressão “bode expiatório” se originou do fato de que os judeus na Antigüidade sacrificavam um cordeiro a Deus, como ação simbólica da expiação de suas culpas. Na sabedoria popular, brincava-se de que quando não se tinha um carneiro para tal rito, o fazia com um bode. E sem ter culpa alguma, o pobre animal era sacrificado em lugar do verdadeiro “interessado”. Assim, surgiu a referência “bode expiatório” para alguém que sofre as conseqüências de uma culpa que não lhe pertença. No futebol, muitos bodes expiatórios surgem! Rodada a rodada (ou jogo a jogo), busca-se a isenção de culpas e transferências de responsabilidades. Ora uma atuação do goleiro, ora o gramado, a chuva, a altitude… mas corriqueiramente, o árbitro! Sem poder defender-se contra as línguas afiadas de alguns pseudo-desportistas (aqueles que se dizem ligados ao esporte mas não o encaram verdadeiramente como esporte – pois não sabem perder), o árbitro acaba sendo o culpado até mesmo antes do “acontecido acontecer”.
Tal observação surge devido a leitura de uma obra (Dança dos Deuses, de Hilário Franco Júnior, já citado aqui), durante uma viagem para a arbitragem de um jogo pela A3, acompanhado pelos colegas árbitros Eduardo de Jesus Conceição, Claudosn Lincoln Beggiato e Vinícius Furlan, além do sempre atento amigo motorista Misael. E pelo interesse comum que temos para com a arbitragem de futebol, compartilho tal texto para apreciação:

“Em cada partida de futebol, o bode expiatório é (…) colocado como o árbitro. No Brasil, sintomaticamente, os árbitros não entram em campo junto com os times, como na Europa. Eles são expostos às manifestações do publico antes de a partida começar, atraindo parte da energia destrutiva que a multidão possui. Enquanto símbolo de autoridade, são identificados com governos autoritários ou corruptos, freqüentes na nossa história, e de maneira sistemática são agredidos verbalmente pelas torcidas antes de mesmo de começar a trabalhar. De um ponto de vista sociológico, é como partir do pressuposto de que todo árbitro é corrupto. De um ponto de vista antropológico, é como se seu sacrifício prévio garantisse a tranqüilidade do rito posterior.”

Ou seja, em linguagem coloquial, o sublinhado se refere a: para o povo, o juiz é sempre ladrão. Antes do jogo começar, precisa-se fazer pressão para que tudo ocorra bem!

Obs: Na França, recentemente, há uma tentativa de mudança de imagem da figura do árbitro. Na Tv, a federação local veicula uma publicidade com um jogador ao lado de um árbitro, ambos uniformizados, com os dizeres: “não temos o mesmo uniforme, mas temos a mesma paixão”.

Funcionaria aqui?

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