Passos, pequeno município do sul de Minas Gerais, está se mobilizando para a construção de um hospital especializado em oncologia infantil. A comunidade está engajada, e parceiros da região organizarão uma “festa da solidariedade”, onde acontecerão shows beneficentes por 10 dias. Entre os artistas, foram convidados KLB, Gino e Geno, entre outros, que graciosamente cederam seus cachês. A grande atração seria a cantora Ivete Sangalo, que daria um desconto no seu cachê, cobrando módicos 400 mil reais. A justificativa é que, se todos que pedissem colaboração em shows beneficentes fossem atendidos, a agenda ficaria lotada de espetáculos gratuitos (não julgarei tal situação).
Entretanto, na surdina e sem alarde da sua marca, o empresário Antonio Ermírio de Moraes doou 400 TONELADAS de Cimento, outras tantas de Cal e Vergalhões. Tal ação poderia ser de responsabilidade social, valorizando a marca do seu grupo, Votorantim. Entretanto, pode-se chamar de solidariedade, pois o bom filantropo disse que não era publicidade, pois sua doação era “ajuda mesmo” às crianças com câncer.
É bom ver tais exemplos em nossa sociedade.
Mês: maio 2008
O Golaço Literário de Daniel Piza
Abaixo, um belíssimo texto do colunista Daniel Piza, do Estadão, intitulado “Uma Seita Chamada Futebol”, extraído do OESP, Caderno Aliás, 23/10/2005. Para quem gosta do esporte bretão, é leitura obrigatória!
UMA SEITA CHAMADA FUTEBOL
Veja os hooligans da civilizada Inglaterra, fenômeno paralelo ao dos punks que brotaram dos subúrbios da monarquia e sua fantasia. Eles emergiram nos anos 70 e foram combatidos nos anos 90, mas não desapareceram. Veja as brigas entre gangues de adolescentes em cidades como São Paulo. Verdadeiras batalhas, como as desta semana, já causaram muitas mortes a socos e pauladas. Veja o racismo e a xenofobia da torcida de clubes riquíssimos como Real Madrid, Roma, Chelsea e Bayern. Craques do porte de Henry e Ronaldo são xingados de “macacos” até pelos torcedores do próprio clube ao qual vendem seu talento. Veja a atitude das torcidas uniformizadas, com seus gritos de guerra embebidos em álcool. Caminham para o estádio como para uma arena romana, sonhando em ver o animal derrotar o homem mais uma vez.
Num ótimo livro de jornalismo, Entre os Vândalos, Bill Buford mostrou como o comportamento do torcedor é ditado pelo dos outros. É a velha história do indivíduo medroso que, em turma, vira corajoso. São como hienas em bando. Não por acaso os torcedores mais violentos são jovens em geral, de 15 a 25 anos; sua combustão hormonal explode no coquetel de confronto, cerveja e cafajestismo. Eles pertencem a todas as classes sociais, mas têm em comum o gosto pela demonstração fácil de poder, a indiferença para com o outro.
Mas não são apenas as minorias que tomam um espetáculo de futebol como ocasião para descarregar suas frustrações afetivas. Veja também como se comportam muitos jogadores, mais interessados em chutar canelas do que a bola. E muitos comentaristas, que criticam a seleção quando perde, empata ou ganha por pouco, sempre cobrando dela a honra nacional. E os antropólogos de botequim, incluído o presidente da República, que defendem o futebol brasileiro como expressão da tal democracia racial, do “povo eleito” pela mestiçagem. E a grande maioria dos torcedores, que sofrem durante o jogo, que na derrota perdem o humor a ponto de parecer humilhados e na vitória se sentem superiores aos outros. O “meu” time ganhou do “seu” – os pronomes possessivos não deixam dúvida quanto à natureza moral da sensação.
Em certo sentido, a graça do futebol é também sua desgraça. Como esporte, serve justamente para desviar energias físicas, para driblar impulsos agressivos que todo ser humano possui e tem de escoar de alguma forma. Durante muito tempo a religião, com um poderoso sistema institucional, e a ideologia, seu substituto histórico, foram os estádios enganosamente seguros para a sensação de pequenez e incompreensão. Hoje o mundo está fragmentado e pragmático, sem a suposta “coesão moral” que dá saudade nos conservadores. Os nacionalismos perderam um pouco da força política, e a indústria do entretenimento ajudou a derrubar teses e regimes autoritários, a começar pelos socialistas. Mas os instintos indomáveis da natureza humana não se aquietaram. Os conflitos aparecem sublimados na forma dos espetáculos esportivos; ao mesmo tempo, porém, são realimentados por eles, por caminhos mais complexos, nem por isso menos cruéis e fascistóides. São provas de que o tribalismo medieval sobrevive à tecnologia.
É preciso, então, distinguir o torcedor do torcedor fanático. O torcedor é alguém que sabe que o esporte representa uma dimensão incontornável da linguagem humana, de seu espírito de bravura corporal que pode ser traduzido em beleza, diálogo entre povos, expansão das faculdades e da sensibilidade. Como Jesse Owens provando para Hitler que um negro não é inferior a um branco. Como turcos e coreanos se abraçando depois de uma partida na Copa da Ásia em 2002. Como a seleção brasileira abrindo em agosto do ano passado um clarão de alegria no cotidiano bárbaro do Haiti – história agora contada por Caíto Ortiz, João Dornelas e Fábio Altman no documentário O Dia em Que o Brasil Esteve aqui, que faz parte da Mostra BR de Cinema.
Pense, enfim, em Pelé, Muhammad Ali, Michael Jordan e Ayrton Senna indo além dos clichês universais como técnica x tática, prosa x poesia, inspiração x disciplina e, claro, civilização x raça. Sua conjugação ética de arte e combatividade, em suma, fala alto à ambição do ser humano desde os pré-socráticos.
Já o torcedor fanático é alguém que confunde torcer com distorcer, que espera do futebol a salvação que as religiões prometem, agora em versão auto-ajuda. Por isso os goleiros são comparados com santos; os grandes artilheiros “operam milagres”; as massas entoam hinos e salmos; as mãos com unhas roídas colam palmas em clamor aos céus; os ídolos sugerem alternadamente a glória e a perdição. O que era para ser divertimento e ensinamento termina sendo credulidade e catarse. Inábil para lidar com emoções fortes, para tomar decisões adequadas no calor da hora como o craque dentro de campo, o ser humano continua chutando a razão para escanteio.
(Primeira versão publicada na revista Homem Vogue, em maio de 2005)
Labirintite: não a deseje nem ao pior inimigo!
Puxa, após um longo período sem sua presença, ela voltou. Não perdoa, judia; não dá trégua, pune. Tira do equilíbrio físico e a disposição. Quem é ela? Minha labirintite de estimação, que há muito não aparecia! E aí, ela vem com os enjôos de um lado, com as tonturas de outro… e dá-lhe dramim! Que porcaria! Mas após um pouco de soro já estou pronto para outra! Bom, estarei… amanhã. Porque hoje ainda não paro em pé! Bom finzinho de tarde!
Parada Gay: qual o propósito?
Neste final de semana, haverá a Parada Gay em SP, e são esperadas 3 milhões de pessoas, sendo que a prefeitura municipal distribuirá 1 milhão de preservativos (o que sugere que 1/3 poderão fazer sexo seguro). Mas esta não é a questão levantada. A questão é o respeito a dignidade, que parece ser esquecido. Há quase 1 ano, neste espaço, fiz uma observação que permanece atual. Abaixo:
Post de 13.06.2007, em
http://rafaelporcari.blog.terra.com.br/parada_homo_x_parada_hetero#comments
Parada Homo X Parada Hetero
Fico pensando sobre toda essa manifestação dos grupos GLTB durante a Parada Gay. E chego a conclusão de que tal evento nada mais é do que um carnaval homossexual, sem atender aos propósitos da causa defendida.
O lema pregou o fim da Homofobia e respeito aos direitos dos homossexuais. Mas como levar a sério, se os manifestantes estão sambando a um volume inaudível, com fantasias diversas e outros praticamente nús?
Ligo a TV e vejo um moreno, em cima de um trio elétrico, apenas de mini-saia. Onde está a defesa da manifestação? Onde estão as faixas reinvindicando os direitos gays?
No sábado anterior, houve uma caminhada lésbica na Av Paulista, com aproximadamente 200 pessoas, em defesa do direito das homossexuais. Sinceramente, este protesto tem muito mais respeito e dignidade do que os 3 milhões da Avenida Paulista. Elas protestaram, os outros festejaram.
Respeito o homossexual, mas não faço defesa da prática. A opção sexual de cada um deve ser discreta, respeitosa, para que não se torne vulgaridade ou promiscuidade. A Parada Gay se tornou uma festa de apologia, libertinagem e pornografia, aceita pela mídia e pelos grupos empresariais que querem negociar com este público consumidor.
Já imaginaram a repercussão de uma parada de 3 milhões de heteros, fazendo apologia a heterossexualidade? Seria condenada por muitos.
A causa que poderia ser cidadã parece se tornar libertina. Infelizmente.
A Fanfarronice Antidesportiva
Abaixo, impelido pelo desejo de compartilhar possível fato lamentável do futebol (esporte do qual nós árbitros convivemos em nosso honesto trabalho, cujo sentimento sobre o fato a seguir certamente a maioria repudia), envolvendo a marmelada (e uso esse termo já que o TJD da FPF impugnou o jogo) da partida que classificou para a séria A1 as equipes do Oeste e Mogi Mirim, no quadrangular decisivo da A2.
Segue texto do respeitadíssimo jornalista Mauro Beting, publicado no Jornal Lance de 16/05/2008, em sua coluna:
(Nota – não opino sobre o texto por conduta ética e impedimento de minha atividade, apenas expresso o lamento da situação antidesportiva, e parabenizo o Tribunal de Justiça pela decisão – não entrando no mérito de defender ou não a eliminação das equipes, como alguns têm feito, pelos mesmos motivos que me impedem de tecer tais comentários, apesar de ter meu juízo já formado)
Tropa de elite – É o futebol brasileiro fanfarrão que pede pra subir
Segundona paulista: intervalo de Mogi Mirim x Oeste. O empate sem gols classifica para a Série A-1 o time de Itápolis. O dono da casa também voltaria à elite se o Atlético Sorocaba vencer o clássico contra o São Bento, realizado ao mesmo tempo.
Quer dizer… Quase: porque o goleiro Fernando (Mogi) “torce” o tornozelo na volta do vestiário. Quando se “recupera”, Gledson, goleiro do Oeste, tem um “problema” e cai no gramado. Rindo, o árbitro Guilherme Cereta de Lima vai até ele para acelerar o reinício de jogo.
Enquanto isso, os treinadores Argel (Mogi) e Roberto Fonseca (Oeste) conversam… Argel diz que relembram histórias dos tempos de jogadores… Época em que era comum o arranjo de resultados.
Aos 25 minutos, Gilberto abre o placar em Sorocaba. Um a zero Atlético. O resultado classifica Oeste e também o Mogi. Bastaria manter o empate entre eles. Ao saber do gol que classifica os dois, o treinador do Oeste exulta:
– Ó, meu Deus! Que maravilha!!! Argeeeeel!!!!
E berra para o treinador do Mogi. Na maior cara-dura. Eles que já mandavam sinais de arranjo na fuça do quarto árbitro(Jorge Torres) não se seguram: abertamente trocam idéias e orientações. Os times, então…
Até o final do jogo, dos 25 aos 45min43, apenas duas bolas são cruzadas na área do Oeste. E só. O Mogi chega a ficar quase 9 minutos com a bola aos pés, na defesa. Nem o River Plate dos anos 40 tinha tamanha posse de bola!
Aos 30 minutos, a própria torcida do Mogi começa a vaiar. Aos 34, o artilheiro Luizinho vai entrar em campo, pelo Oeste. Perguntado pela reportagem se ele entraria pela primeira vez na carreira para NÃO fazer um gol, desconversa. E, só depois do fim do jogo, admite que a ordem para segurar a bola vinha lá de cima. Não do céu, claro.
Luizinho leva três minutos para entrar: a bola não sai, não há falta, não há chute. Nada há de futebol. A ponto de Argel berrar para um jogador do Oeste cair no gramado, aos 42 minutos. A ponto de Fonseca reclamar com Argel de que um jogador do Mogi está indo para a área rival… Onde já se viu!? Tentar ganhar o jogo e ficar com vantagem nas finais?!
Era demais. Tanto que o assistente-técnico do Oeste foi até o banco do Mogi para conversar com Argel. No meio de uma decisão. Embora tudo já estivesse decidido.
Não foi a primeira vez. Não será a última. Mas que seja ao menos a última tão descarada, tão debochada. Que ao menos não se faça com uma encenação de segunda.
Comemorar o quê?
Hoje se recorda a abolição da escravatura no Brasil. A grosso modo, a Princesa Isabel (e esta é uma opinião bem particular) fez um DESSERVIÇO à nação. Calma, não é um comentário racista, muito pelo contrário (novamente, lembro que só deve existir uma raça, a raça humana). O questionamento se dá pelo fato de, demagogicamente, assinar uma lei libertando os negros da escravidão, e… e o quê? Simplesmente, o escravo que vivia nas senzalas estava livre, e a partir daquele momento, estava solto, sem casa, sem comida, sem dinheiro, e com alguns trapos no corpo! Não houve nenhum programa de inserção do negro à sociedade. E, até hoje, os negros pagam o preço de tal medida sem planejamento futuro nem preocupação social: Qual o percentual de negros em Universidades? Na Política? Nas artes?
Recentemente, a ONG AfroBrasil divulgou um levantamento da CNT-Sensus: no Brasil, apenas 3,3 % dos negros chegam a cargos de comando na Administração de Empresas.
A Espiritualidade nas Empresas
Na última aula, trabalhamos um tema muito interessante sobre Espiritualidade nas Organizações. Coloco à disposição o tema, acompanhado de um fórum de debates do Portal Exame com o Yahoo!:
http://br.groups.yahoo.com/group/vivernatural/message/526
Em sala de aula, os trabalhos sobre o assunto e a resposta à questão “O que você pensa sobre a mistura de religião e ambiente de trabalho?” trouxe uma diversidade impressionante de opiniões. Claro, todas respeitosas e anonimamente. Tentei fazer um apanhado, buscando sintetizar o que pensa a sala:
Alguns alunos citaram ser um ponto de discórdia esta mistura, alegando que isso “é um problema, pois são assuntos diferentes que tratam de coisas distintas”, pois “negócios e religião não deveriam se misturar por têm caminhos conflitantes”. Ademais, seguindo outro aluno, “o patrão fará proselitismo, pois eu mesmo quase fui convertido pelo meu chefe”, corroborando, outro trabalho disse que “é um problema o conflito de religiões no meu departamento, pois só tem fanático”.
Por outro lado, outros defenderam essa associação, pois “levar o que as religiões ensinam e o que há de bom ‘para o bem comum’ para dentro das empresas é viável”, além de que “as práticas positivistas fraternas deveriam ser adotadas em todas as organizações”. Por fim, outro aluno diz ainda que “a tolerância parte do ecumenismo e a empresa é parte dessa sociedade”, pois devemos “agir com o mesmo espírito de paz, harmonia e amizade na Igreja, em casa e no trabalho”.
Percebeu-se que muitos ponderam suas respostas no respeito a todas as crenças sem se aprofundar, pois “prudentemente eu tenho a minha religião, você a sua e ninguém questione isso na hora de trabalhar”. Ou o texto final de outros 2 trabalhos (usaram a mesma lógica na resposta) de que “política, futebol e religião não se discute”.
Que ferramenta bacana!
Que legal é essa ferramenta chamada BLOG, não?
Estou gostando muito dessa forma de interação, pois o poder de alcance é grande, além de permitir a expressão das idéias e manifestação livre de censura.
O problema é o TEMPO para utilizá-lo. Aliás, como um dito popular, “aqueles que dizem não ter tempo são os que mais conseguem encontrá-lo”.
Não gosto muito de jargões feitos, mas esse aí encaixou bem!
Até mais!
A Carambola Venenosa de Jaú
Há pessoas que fazem tudo para aparecer. E em época eleitoral, na classe política, mais ainda. E não é que em Jaú, belíssima cidade do interior paulista, o vereador Zé Mineiro proibiu o uso de qualquer condição da fruta Carambola, classificando-a como uma droga e nociva a saúde? E mais, o prefeito municipal sancionou o seu projeto de lei!
A medida, que segundo o próprio vereador não tem base científica, foi calcada após conversar com um senhor de idade que disse ter muita experiência de vida, e que sua santa mãezinha sempre o alertava para não comer carambola, pois a fruta envenenava o rim. Segundo o nobre vereador, “fiz a lei e corri para o abraço”. (Desculpe, estou escrevendo este texto e não contive minha risada agora.)
Segundo especialistas, é um mito dizer que carambola faz mal ao rim. O costume popular diz que o excesso de carambola (como de qualquer outro alimento) pode trazer prejuízos a pacientes com insuficiência renal. O que se tem de concreto é que a Carambola previne o envelhecimento (contém polifenóis, mesma substância encontrada no vinho) e fortalece o sistema imunológico (rica em vitaminas A, C e do complexo B).
A lei de Jaú diz que: “(…) todo os hospitais, postos de saúde, ambulatórios e demais estabelecimentos de saúde, públicos e privados, estão obrigados a manter cartazes sobre os malefícios da carambola (…) A obrigação estende-se à empresas do gênero alimentício, tais como bares, lanchonetes, padarias, sorveterias, e congêneres.”
O Dia das Mães
Como domingo é “feriado”, antecipo minha mensagem:
Particularmente, tenho muita dificuldade em falar sobre mãe. Perdi minha querida mãezinha em Maio de 1997, com 42 anos, uma semana depois do Dia das Mães. E a saudade sempre foi grande. Enorme. Insubstituível. Afinal, amor de mãe é singular. É diferente de amor de irmão, de pai, de esposa. Mãe é única. Mãe é um ser tão especial que até mesmo Deus quis ter uma!
Minha mãe foi minha heroína na terra. Hoje, a tenho como uma santa no Céu, me ajudando cada vez mais. Não tenho tristeza pelo seu falecimento, afinal, ela sofreu muito em vida com sua doença, mas a dor do desejo de um abraço impossibilitado pela distância é indescritível.
Não posso me queixar de não ter uma mãe hoje, ao meu lado para ajudar, pois minha querida sogra é minha segunda mãe. De fato, não só de expressão. Ela é mais um anjo que o Senhor pôs na minha vida para me ajudar. Mas é um amor tão grande e ao mesmo tempo diferente. São amores distintos, intensos, ambos com carinho maternal, mas em momentos diversos.
A guerreira mãe que tive mal concluiu a quarta série primária, e ajudou-me a entrar em doutorados, ensinando-me a ler e a escrever, veja só, com a “cartilha da Mimi”. Educou-me para a fé, preparou-me para a vida. Como todo adolescente, dei “algum trabalho” a ela, mas nada grave nem condenável. E entrava na linha rapidamente, pois felizmente a vara de marmelo (que agradeço a Deus por ter existido) não me deixava fugir de alguns caminhos. Um puxão de orelhas não é violência doméstica, mas correção de alguém que ama outro. A amava, e poucas vezes talvez disse isso a ela, embora nunca tenhamos nos separados e ela certamente sabia desse amor.
Como é bom ter mãe… Aos meus dez anos, lembro-me dela e meu pai cuidando do meu avô, que teve câncer por tanto fumar. Maldito cigarro, tirou-me o poeta Manelão, meu vô Pi, meu amigo que ensinava-me a fazer arapucas. Aliás, também perdi meus 2 avôs cedo (meu vô Toninho, incrível, fantástico, alegre, amigo, farreiro…outra grande saudade). Lembro-me também de depois de meu avô, logo em seguida, a corrida aos médicos com minha avó. Outro anjo nesta terra. Câncer em múltiplos órgãos. E minha mãe (sempre junto com meu pai) lutando bravamente pela vida (como é importante viver…). Depois da morte dos avós, o martírio de minha mãe, também com o câncer. Quase 8 anos de luta. Recordo-me como se fosse hoje, meu pai triste por um médico dizer a ele clara e friamente que a mãe deveria ter seis meses de vida, no máximo. A luta foi grande, médicos diferentes, tratamentos diversos, e a batalha para a vida, ou melhor, uma sobrevida. E nunca questionando nada, nenhum “por quê”, somente agradecendo a Deus por poder acordar mais um dia. E a disposição de vencer durou muito mais que seis meses. Em sua última quimioterapia, quando eu tinha 21 anos, o médico me chamou e disse: “Infelizmente, tudo foi feito. Será questão de dias…” Essa frase ainda povoa vez ou outra minha mente, e talvez confidenciando-a, ela me abandone. Mas duro foi vê-la, após a realização da quimio, de cadeira de rodas, a poucos minutos de eu receber tal notícia, sair da ala de oncologia com um sorriso maravilhoso dizer que “hoje tinha sido muito bom, nenhuma reação colateral até então”. Dói. Dói muito saber que tal carinho e alegria durariam pouco tempo.
Uma semana depois do dia das mães de 97, o câncer era de múltiplos órgãos e ocasionava vários problemas, dos cardíacos à trombose. Quanta dor e sofrimento, mas sempre com a alegria no coração e o desejo de viver. Na última tarde, sem poder se mexer pelos medicamentos, mas totalmente consciente, pudemos , tanto eu e meu pai, revezadamente, conversar com ela pela derradeira vez. A maior e mais espetacular experiência que tive, estar frente a frente com o momento de despedida desta terra ao Reino dos Céus. Pude falar tudo a ela, toda a minha vida e meu sentimento. Uma despedida, ou, se Deus quiser, um até logo afetuoso.
Te amo mãe! Do Céu, onde piamente creio que a senhora está, um beijo no coração. E continue intercedendo por mim, pela sua filha Priscila, seu marido Milton, sua nora Andréia, seu futuro genro Augusto… e a todos enfim!
Feliz dia das mães a todos!
Árbitro: um simples bode expiatório
Amigos, a expressão “bode expiatório” se originou do fato de que os judeus na Antigüidade sacrificavam um cordeiro a Deus, como ação simbólica da expiação de suas culpas. Na sabedoria popular, brincava-se de que quando não se tinha um carneiro para tal rito, o fazia com um bode. E sem ter culpa alguma, o pobre animal era sacrificado em lugar do verdadeiro “interessado”. Assim, surgiu a referência “bode expiatório” para alguém que sofre as conseqüências de uma culpa que não lhe pertença. No futebol, muitos bodes expiatórios surgem! Rodada a rodada (ou jogo a jogo), busca-se a isenção de culpas e transferências de responsabilidades. Ora uma atuação do goleiro, ora o gramado, a chuva, a altitude… mas corriqueiramente, o árbitro! Sem poder defender-se contra as línguas afiadas de alguns pseudo-desportistas (aqueles que se dizem ligados ao esporte mas não o encaram verdadeiramente como esporte – pois não sabem perder), o árbitro acaba sendo o culpado até mesmo antes do “acontecido acontecer”.
Tal observação surge devido a leitura de uma obra (Dança dos Deuses, de Hilário Franco Júnior, já citado aqui), durante uma viagem para a arbitragem de um jogo pela A3, acompanhado pelos colegas árbitros Eduardo de Jesus Conceição, Claudosn Lincoln Beggiato e Vinícius Furlan, além do sempre atento amigo motorista Misael. E pelo interesse comum que temos para com a arbitragem de futebol, compartilho tal texto para apreciação:
“Em cada partida de futebol, o bode expiatório é (…) colocado como o árbitro. No Brasil, sintomaticamente, os árbitros não entram em campo junto com os times, como na Europa. Eles são expostos às manifestações do publico antes de a partida começar, atraindo parte da energia destrutiva que a multidão possui. Enquanto símbolo de autoridade, são identificados com governos autoritários ou corruptos, freqüentes na nossa história, e de maneira sistemática são agredidos verbalmente pelas torcidas antes de mesmo de começar a trabalhar. De um ponto de vista sociológico, é como partir do pressuposto de que todo árbitro é corrupto. De um ponto de vista antropológico, é como se seu sacrifício prévio garantisse a tranqüilidade do rito posterior.”
Ou seja, em linguagem coloquial, o sublinhado se refere a: para o povo, o juiz é sempre ladrão. Antes do jogo começar, precisa-se fazer pressão para que tudo ocorra bem!
Obs: Na França, recentemente, há uma tentativa de mudança de imagem da figura do árbitro. Na Tv, a federação local veicula uma publicidade com um jogador ao lado de um árbitro, ambos uniformizados, com os dizeres: “não temos o mesmo uniforme, mas temos a mesma paixão”.
Funcionaria aqui?
