Não quero parecer retrógrado, demagogo ou patético. Mas me causa muita angústia a discussão radical entre Igreja e Estado sobre o uso da camisinha. Ambos possuem posições firmes e polêmicas. Às vezes, ambos têm razão e ao mesmo tempo não têm. E, sem querer apimentar a discussão, mas opinando em relação a esta situação, algumas ponderações devem ser feitas.
Inicialmente, todos sabemos dos cuidados devidos na prevenção contra essa mortal síndrome que é a Aids. Ponto que não se discute. A forma de prevenção é o ponto. Em recente visita ao Hospital Israelita Albert Einstein, centro médico de excelência maior, encontrei alguns folders que bem retratam o que penso. Lá, orientações para evitar o contágio com o vírus HIV. E a única forma de prevenção segura é a abstinência sexual ou as relações sexuais com parceiro fixo após exames. A camisa-de-Vênus (desenterrei este termo), ou simplesmente camisinha ou preservativo, por possuírem ressalvas (como defeito de fabricação ou mau uso), foi qualificada pelo HIAE como ação de baixo risco. Reforçando, baixo risco significa que existe risco.
Se olharmos com uma visão mais religiosa, não só a Igreja Católica, mas outras Igrejas Cristãs, o Judaísmo e demais profissões de fé, teremos a percepção que a fidelidade ao esposo / esposa é o sexo seguro adequado, evitando uma vulgarização do ato sexual e da dependência do amor físico, carnal. Se olharmos pelo lado estatal, a crise da saúde e os novos costumes levam à necessidade da adoção do incentivo ao preservativo.
O certo é que a visão de muitos é a de, partindo do ponto de vista que a camisinha é eficaz contra o contágio do vírus, tudo pode-se, tudo permite-se, transformando o que alguns pregam como liberdade sexual em libertinagem, enfurecendo os mais conservadores. Talvez a culpa seja do ministro Temporão, ao aceitar tranqüilamente o slogan: bom de cama é quem é bom na camisinha. O duplo sentido pode levar a outras interpretações menos puritanas, as quais tornam o preservativo masculino uma ferramenta de discórdia.
Dia: janeiro 28, 2008
Interpretando a Interpretação
Confesso que não agüento mais ouvir a discussão nas rádios, jornais ou TV, sobre os lances polêmicos do jogo São Paulo X Corinthians com o Sálvio Spínola. Ouve-se de tudo! Comentários de especialistas e de leigos, alguns com lógica e outros ilógicos, expressões inteligentes e impressões absurdas.
Por alto, sem critério metodológico, creio que o que mais ouvi é que tudo isso é culpa da interpretação. Mas o que é interpretação?
A interpretação no futebol nada mais é do que a capacidade facultada ao árbitro de analisar um lance e tomar decisões. Quanto mais polêmico o lance, mais polêmica a decisão. Entretanto, a mesma deve ocorrer em um piscar de olhos. Às vezes, 1 segundo é um tempo precioso para se tomar uma decisão. Aí entra o “erro de fato” e o “erro de direito”. Erro de fato é aquele que você interpretou um lance, tomou a decisão, e posteriormente observou que era absurda sua marcação. Ex: A mão na bola ou bola na mão. Pôs a mão ou bateu na mão… Já o erro de direito é aquele que se caracteriza pelo desconhecimento da regra. Ou seja: a bola foi recuada para um goleiro por um companheiro de time e o árbitro esqueceu-se de que isso não podia. Na prática, o erro de direito permite anulação do jogo, pois é um “direito”. O erro de fato não, pois houve interpretação naquele fato momentâneo. Ambos não caracterizam dolo intencional.
Feita a introdução, me admiro em ver como a polêmica tomou corpo. É claro que é um clássico, é evidente que num Majestoso (a quanto tempo não se refere a este jogo pelo seu apelido) traz muita repercussão, mas erros como esses (se considerarmos como erro, não o estou aqui fazendo) acontecem com freqüência. E são erros inerentes do futebol, da sua natureza. Alguns passam desapercebidos, outros são mais claros. Em uma partida com inúmeras câmeras, é normal que eles sejam destacados. O que não se pode é creditar má-fé. Por qual motivo o árbitro agiria assim? Qual a intenção? São 2 equipes grandes e tradicionais.
Quanto ao lance em si, e por minha posição como árbitro profissional da FPF, colega do Sálvio e conhecedor dos meandros da arbitragem, não me encontro em posição confortável para comentar tais lances. Seria cômodo usar a desculpa da ética para não me comprometer, ou ainda praticar o proselitismo em torno da categoria. Mas ousarei usar o Fair Play para dizer que faço valer a resposta batida, mas adequada, de que os lances são interpretativos. Se a minha interpretação seria a mesma do Sálvio? Aí já é outra história…
Em tempo: não se pode execrar um árbitro por uma partida. Às vezes, acorda-se num dia ruim, tudo dá errado e frusta-se uma expectativa. E aqui lembro-me de certa vez, em 2004, quando estávamos em pré-temporada para o Paulistão daquele ano, que o árbitro Cléber Abade disse, após realizarmos uma atividade de interpretação de lances (eram 30 jogadas polêmicas): aqui acertei e errei, mas na minha casa, no meu sofá, com minha televisão e controle remoto, não erro um só! Ou seja, a comodidade de alguns críticos também é exagerada, pois sem dó nem piedade rechaçam qualquer argumentação.
Por alto, sem critério metodológico, creio que o que mais ouvi é que tudo isso é culpa da interpretação. Mas o que é interpretação?
A interpretação no futebol nada mais é do que a capacidade facultada ao árbitro de analisar um lance e tomar decisões. Quanto mais polêmico o lance, mais polêmica a decisão. Entretanto, a mesma deve ocorrer em um piscar de olhos. Às vezes, 1 segundo é um tempo precioso para se tomar uma decisão. Aí entra o “erro de fato” e o “erro de direito”. Erro de fato é aquele que você interpretou um lance, tomou a decisão, e posteriormente observou que era absurda sua marcação. Ex: A mão na bola ou bola na mão. Pôs a mão ou bateu na mão… Já o erro de direito é aquele que se caracteriza pelo desconhecimento da regra. Ou seja: a bola foi recuada para um goleiro por um companheiro de time e o árbitro esqueceu-se de que isso não podia. Na prática, o erro de direito permite anulação do jogo, pois é um “direito”. O erro de fato não, pois houve interpretação naquele fato momentâneo. Ambos não caracterizam dolo intencional.
Feita a introdução, me admiro em ver como a polêmica tomou corpo. É claro que é um clássico, é evidente que num Majestoso (a quanto tempo não se refere a este jogo pelo seu apelido) traz muita repercussão, mas erros como esses (se considerarmos como erro, não o estou aqui fazendo) acontecem com freqüência. E são erros inerentes do futebol, da sua natureza. Alguns passam desapercebidos, outros são mais claros. Em uma partida com inúmeras câmeras, é normal que eles sejam destacados. O que não se pode é creditar má-fé. Por qual motivo o árbitro agiria assim? Qual a intenção? São 2 equipes grandes e tradicionais.
Quanto ao lance em si, e por minha posição como árbitro profissional da FPF, colega do Sálvio e conhecedor dos meandros da arbitragem, não me encontro em posição confortável para comentar tais lances. Seria cômodo usar a desculpa da ética para não me comprometer, ou ainda praticar o proselitismo em torno da categoria. Mas ousarei usar o Fair Play para dizer que faço valer a resposta batida, mas adequada, de que os lances são interpretativos. Se a minha interpretação seria a mesma do Sálvio? Aí já é outra história…
Em tempo: não se pode execrar um árbitro por uma partida. Às vezes, acorda-se num dia ruim, tudo dá errado e frusta-se uma expectativa. E aqui lembro-me de certa vez, em 2004, quando estávamos em pré-temporada para o Paulistão daquele ano, que o árbitro Cléber Abade disse, após realizarmos uma atividade de interpretação de lances (eram 30 jogadas polêmicas): aqui acertei e errei, mas na minha casa, no meu sofá, com minha televisão e controle remoto, não erro um só! Ou seja, a comodidade de alguns críticos também é exagerada, pois sem dó nem piedade rechaçam qualquer argumentação.
A interpretação do árbitro é maior subjetividade do futebol atual. Sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim. Mas sei que torna o futebol mais gostoso, “vendável” e popular.
