A jovem de Abaetetuba

Há certas situações que não só constrangem, mas nos levam a uma reflexão da vida-cão que muitos levam. E nos trazem à outra ponderação: quantos problemas nós temos frente aos problemas dos outros… Quais são eles, e a profundidade deles!
Dito isso, vamos ao episódio motivador de tal comentário. Na cidade de Abaetetuba, interior do Pará, uma jovem de 15 anos foi encarcerada juntamente com outros 20 homens, sem qualquer tipo de separação. A adolescente, acusada de roubo de comida (portanto, leva-se a crer que passava fome), foi presa conforme a lei (como se todas as leis fossem cumpridas e todos os criminosos fossem detidos – principalmente os de crimes de colarinho branco). Mas, aos olhos da justiça, independente da moral ou imoralidade, tudo ocorreu legalmente. O problema é que após a detenção, ela foi colocada numa cela comum, com superlotação de homens, com a justificativa que a cidade não possuía presídio feminino. Isso, porque a jovem é menor de idade. E, de acordo com o ECA, não pode ser presa, mas enviada à recuperação / ressocialização. Não estou aqui defendendo a impunidade, apenas relatando tal indignação.
O fato é que durante todos os dias (exceto às quintas, dia de visita), a garota foi obrigada a manter relações sexuais com os presos, que faziam rodízio de horário e de posições com a infeliz. Tudo isso permitido pelas autoridades locais.
O que mais choca é a hipocrisia social. Não há um responsável para ser punido: policiais jogam a culpa no Estado, que joga a culpa nas Instituições, que devolve para o Sistema, e assim se faz a impunidade.
O fato é que tais atitudes tiveram outro propósito. Como é sabido, mas não provado, é que muitas carceragens permitem entrada de entorpecentes para acalmar os presos mais rebeldes. Outras, abrem mão de algumas regalias. E a presença de uma mulher numa cela masculina para satisfazer alguns bandidos que se rebelam, lamentavelmente, é entendida como usual, apesar de descabida. Claro, ressalto que isso não é provado, mas é subentendido como provável.
Indícios de tudo isso ser verdade: cortaram o cabelo da moça, para se misturar com o cabelo curto e calvície dos demais. Segundo depoimentos dos presos, todas as relações aconteciam com preservativos. Ué, como os preservativos entram na cadeia se os presos estão, literalmente, presos em uma cela?
É por essa e outras situações que se questiona, até mesmo, os princípios pessoais. Em quem acreditar? Vale a pena ser honesto? Como mobilizar a sociedade para que novos casos como esse não aconteçam?
Abaixo, a primeira manchete sobre o caso ocorrido no começo da semana:
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2086855-EI5030,00.html