O Prêmio da Incompetência da ANAC

 Sensibilidade não é o forte de muitos políticos. Veja que absurdo: segundo o Jornal Nacional, de 20/07, os diretores da Anac foram PREMIADOS pelos bons serviços prestados à aviação brasileira.

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Não são eles os responsáveis pelo caos aéreo? Não é deles o controle e fiscalização sobre a Infraero e as empresas de aviação civil?

Deve ser extremamente perturbante a receptividade aos familiares do vôo da TAM que atravessou a pista de Congonhas nesta última semana ouvir tais manchetes. Se premia a incompetência? Se premia a arrogância, já que o presidente da ANAC ainda não se manifestou desde o dia do lamentável episódio?

Nesse clima de jogos pan-americanos, deve estar sobrando medalhas. É a única justificativa para dar medalha de “Honra ao Mérito” a esses senhores.

Abaixo, matéria sobre o assunto extraída do JT: http://www.jt.com.br/editorias/2007/07/21/ger-1.94.4.20070721.25.1.xml

Prêmio?
3 dias após o desastre, diretores da Anac recebem medalha do governo


Primeiro foi o lamentável “relaxa e goza” da ministra Marta Suplicy. Depois, veio o “apagão por causa do crescimento” do ministro Guido Mantega. Anteontem, os gestos obscenos do assessor especial Marco Aurélio Garcia. Quando se esperava a retração e o comedimento nas declarações dos integrantes da administração federal depois da seqüência de deslizes, eis que três dias depois da maior tragédia da história da aviação civil e, em plena crise aérea, o governo promoveu a condecoração de dirigentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) por serviços relevantes ao setor.

A cerimônia de entrega das medalhas “mérito Santos Dummont” ocorreu ontem, na Base Aérea de Brasília. O vice-presidente José Alencar condecorou quatro pessoas: o diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e três outros diretores da agência, Denise Abreu, Leur Lomanto e Josef Barat. A medalha é entregue a personalidades civis e militares que se destacam por serviços prestados à Aeronáutica.

Desde a tragédia com o avião da Gol, há seis meses, a Anac tem sido alvo de duras críticas pela incapacidade de controlar a crise aérea. A agência não conseguiu até hoje, por exemplo, impor às companhias mudanças na malha aeroviária que descongestionem os aeroportos.

Zuanazzi foi um dos dirigentes do setor aéreo que perpetrou uma das frases mais infelizes ao tratar dos problemas da aviação. Segundo ele, o País “não vivia nenhuma crise”.

No fim do ano passado, Zuanazzi também prometeu que os brasileiros estariam livres de qualquer problema aéreo – passaram, ao contrário, por um caos sem precedentes.

Desculpas

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, pediu ontem desculpas pelo gesto obsceno feito na quinta-feira à noite. Apesar de ter ficado aborrecido com o episódio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não repreendeu Garcia. Lula encarou o episódio como “uma infelicidade, um acidente de percurso” e pediu ao chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que tranqüilizasse Garcia.

Para Lula, o episódio está sendo superdimensionado. “Foi uma infelicidade, mas essas coisas acontecem”, comentou o presidente. Mas a Comissão de Ética Pública do governo vai analisar o comportamento de Garcia em sua próxima reunião, dia 30. Três partidos de oposição – PSDB, PPS e Democratas – pediram a demissão do assessor.

Protestos

Cerca de 130 pessoas deitaram por dez minutos no piso do saguão de embarque de passageiros do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para lembrar os mortos do vôo 3054 e protestar contra o descaso das autoridades com a crise aérea. Cada manifestante colocou no peito o nome de uma das vítimas do acidente.

O protesto foi silencioso. Os participantes foram cercados por cerca de 150 pessoas, que, ao final, aplaudiram o ato.

A iniciativa foi de três jovens, que, indignados com o acidente, fizeram a convocação pela internet. “Divulgamos para cerca de 200 pessoas e elas replicaram”, explicou o publicitário Daniel Martins, 33 anos. “Sentimos a necessidade de participar mais do que está acontecendo no País, manifestar nosso descontentamento e também mostrar para os familiares e amigos das vítimas que eles não estão sozinhos.”

Houve também manifestações em São Paulo e no Rio.

Uma Visão Americana do Pan

 Me chamou a atenção, e compartilho com vocês, matéria da Folha de São Paulo sobre um blog de uma atleta americana, no qual ela relata sua visão (negativa) do Rio de Janeiro. Nele há exageros, há realidades, há má vontade. Deixo à vontade dos leitores interpretá-lo como fiel ao cotidiano carioca ou não:

Extraído de http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u313654.shtml

Uma cidade sitiada, com agentes do FBI à paisana para garantir a segurança da população. Com rios poluídos, margens repletas de animais mortos, enquanto os vivos bebericam as águas negras, infestadas pela poluição. Não há comida decente por perto, o que obriga os estrangeiros a procurarem durante horas por alimentos que atendam às suas necessidades nutricionais. Este é o Rio de Janeiro que a norte-americana Angie Akers, 31, enxerga nos Jogos Pan-Americanos.

Atleta do vôlei de praia, modelo e socióloga por formação, Akers participou pela primeira vez de uma competição no Brasil, ao lado da companheira Brooke Niles Hanson(…).

“A cidade inteira, de tantos milhões de habitantes, só tem favelas. Os rios correm negros. Porcos e outros animais bebem a água suja. É terrível”, escreve a atleta em seu diário virtual.

“As coisas aqui são muito loucas!!! Não há o que se preocupar com segurança, porque há 15 mil policiais, agentes do FBI à paisana, agentes secretos etc, em todos os lugares. Esse lugar é o mais pobre que já vi. É muito triste”, relata Akers, que faz uma ressalva. “Copacabana, onde jogo, é o lugar mais legal de tudo o que vi.”

A Vila Pan-Americana também mereceu criticas leves no texto da jogadora. “A Vila é legal. Foi construída especialmente para os Jogos e os apartamentos serão vendidos para os mais ricos do Rio depois que sairmos. Mas, para se ter idéia, é o básico do básico. Não existe luxo aqui”, afirmou, referindo-se aos alojamentos de atletas, que já receberam reclamações de outros competidores.

Outra crítica de Akers que chama a atenção é quanto ao cardápio da Vila. “É interessante. Nos disseram que teríamos uma ótima comida, aprovada por nutricionistas esportivos. Estou chocada com o que os atletas de outros países comem. Muita batata frita, cachorro-quente, pães e sobremesas que vocês [leitores] não acreditariam. A maioria dos atletas nem parece atleta”, continua a norte-americana, que disse ter encontrado dificuldades para se alimentar.

“É uma dificuldade para encontrar comida boa. Brooke [Hanson, a parceira] e eu quase ficamos em pânico no primeiro jantar e café da manhã, quando procuramos por algo que conseguíssemos comer”, escreveu a atleta, que só poupou uma grande churrascaria, que disse ter visitado na noite de quarta-feira. “Foi uma das melhores refeições que fiz na vida.”

O sistema de transporte dos atletas também rendeu críticas da norte-americana. “Quando temos dois treinos, são quatro horas no ônibus. Quando é um treino, só duas horas. Eles [organizadores] realmente nos mantêm ocupadas”, escreveu.

Diante de tantas críticas, a Folha Online procurou Akers para conversar a respeito. Mas, recém-eliminada pela dupla mexicana, a “Miss Sunshine” de Redondo Beach não quis conversa. “O Rio é um ótimo lugar para receber um Pan-Americano”, afirmou, antes de deixar a zona mista das arenas de Copacabana.

Colaborou JOSÉ RICARDO LEITE, da Folha Online, no Rio