– Roberto Requião e Paloma Amado: o Relato da Prepotência e Discriminação Social


Dias atrás, o senador Roberto Requião foi indagado sobre o acúmulo de aposentadorias governamentais que recebe e sobre as denúncias de corrupção que ligavam o seu nome ao seu irmão. Ao invés de respondê-las, simplesmente arrancou o gravador da mão do jornalista da Rádio Bandeirantes – depois ele disse que ele era vitima de bulling, por isso não respondeu… Cara de pau, não?


Mas vejam esse relato de Paloma Amado: a moça, nordestina (filha dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai) morava em Paris. E relatou em seu Facebook a experiência negativa que sofreu com o Senador e sua esposa, dentro de um aeroporto, por julgarem a aparência da moça humilde demais… Revoltante: (texto original escrito por Paloma, abaixo)


“EU ODEIO PREPOTÊNCIA


Era 1998, estavamos em Paris, papai já bem doente, participara da Feira do Livro de Paris e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saude se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o aviao da Varig (que saudades) para Salvador.


Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas. Empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais de 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um politico do Sul (nao lembro se na época era senador ou governador, já foi tantas vezes os dois, que fica dificil lembrar). A mulher parecia uma arvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (Calá, com sua graça, diria: o jegue da festa do Bonfim). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo. Me armei de paciência e respondi: Sim, senhora, eu sei. Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara, mas nao disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos. Eu só sorri. Terminei o check in e fui encontrar meus pais.
Pouco depois bateram à porta, era o casal querendo cumprimentar o escritor. Não mandei a putaquepariu, apesar de desejar fazê-lo, educadamente disse não. Hoje, quando vi na tv o Senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, eteceteraetal, fiquei muito retada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar este triste episódio pelo qual passei. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas deste episódio, meus pais nunca souberam de nada…”

 

(Paloma Jorge Amado é psicóloga).

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