– Para que serve a Libertadores?

Responda rápido sem vacilar: qual campeonato de futebol é mais importante para seu time: ganhar a Libertadores ou o Paulistão?

Agora, mais racionalmente. Respire fundo e pense: você respondeu a questão acima pensando no seu clube grande do coração ou pelo seu time local?

Vamos ser claros: você é, por exemplo, jundiaiense “da gema”. Se gostar de futebol, você torcerá pelo Paulista e por um dos quatro grandes de São Paulo (há excessões, lógico). E o que vale mais para você? Se for corinthiano, a vitória do timão na Libertadores ou o Galo de Jundiaí erguendo o caneco de um Paulistão?

Hum… tá difícil a resposta. Que tal mudar de agremiação: aos palmeirenses ou santistas de Jundiaí, mais uma pergunta: vocês preferem o título da Copa do Brasil ou o Paulista se salvando para o rebaixamento da série A2?

Vou dar um tempo para você responder. Vamos falar de outra coisa: se levarmos em conta só aqueles que tem um grande time, a conquista da competição continental é o sonho de consumo. Levar a Taça Libertadores da América parece ter se tornado uma obsessão aos clubes brasileiros. Fico imaginando como os dirigentes de Botafogo e Santos dos anos 60, se ainda vivos, se remoem de remorso por não darem a atenção devida. O Independiente-ARG, grande detentor de títulos da competição nesse período, aproveitou-se desta época e faturou o caneco. Mas talvez viva só desse passado, pois no presente, sua realidade é outra. Não importa; assim como a Celeste Olímpica Uruguaia (30 e 50) está historicamente na frente da Inglaterra (66) em Copas do Mundo (mesmo sendo no começo da competição), os argentinos são mais vitoriosos do que quaisquer brasileiros. O que entra para a história é a conquista do título, e ponto final.

Mas vamos ao que interessa: o que os clubes buscam ao disputar a Libertadores? Dinheiro? Prestígio? O Título simplesmente?

Lendo hoje o Jornal Lance, numa bela matéria do jornalista Marcelo Damato (coluna De Prima, 23/04/2010, pg 14), me impressionei com os valores citados. Por exemplo: os prêmios acumulados pela conquista da Taça Libertadores totalizam US$ 5,39 milhões. Desconte os custos de viagens e hospedagens, anti-dopings, elenco e outras taxas, e do que sobrar, compare com o prêmio pago, por exemplo, pelo Campeonato Paulista: R$ 7,5 milhões. O Campeão carioca, R$ 6,3 mi e o Mineiro R$ 5 mi.

O prêmio continental está desvalorizado, não?

Compare com a Europa: a Champions League paga para um clube que seja eliminado na primeira fase (qualquer equipe cipriota, polaca, albanesa, eslovaca…) cerca de 8,7 milhões de euro. Mais que o campeão sulamericano! Na prática, a desclassificação do modestíssimo Hapel ainda assim traria mais receita do que uma conquista do Corinthians, Flamengo ou São Paulo.

Pensando cá com meus botões… O Brasileirão com 20 clubes é muito mais difícil de se competir do que a Libertadores com 32! Não imagino equipes como Deportivo Itália (VEN), Blooming (BOL) ou Juan Aurich (PER) conseguindo disputar competitivamente nem na nossa série B do Brasileiro. Como na segunda fase da competição sobra metade das equipes, aí sim começa a valer de fato! Mas se há questionamentos da viabilidade financeira da competição ou questionamentos sobre a qualidade técnica da equipe, por que se diz que ela é muito difícil de se disputar?

A resposta é direta: pelas condições e instalações dos estádios, pelo fanatismo de algumas equipes estrangeiras adversárias que impressionam as equipes brasileiras, o excesso de supervalorização da competição, o estilo de arbitragem da escola sulamericana porção espanhola, e, por fim, pelos esquemas táticos pragmáticos. Esqueça a eficiência, busca-se apenas a eficácia. Trocando em miúdos, ninguém vai jogar o futebol-bailarino um dia propagado por um certo treinador quando assumiu a seleção, mas sim o futebol-brucutú, feio, botinudo e de resultado.

Talvez o ímpeto de possuir a Taça Libertadores seja meramente o da conquista de título e internacionalização da marca, o acesso a um status que aí sim pode trazer resultados financeiros mais concretos: a busca do Mundial de Clubes, agora regido pela FIFA e muito mais organizado e valorizado que outrora, justamente pela chancela da entidade. Embora, cá entre nós, o nível técnico só pode ser considerado quando se chega na fase final, quando se joga a decisão entre Sulamericanos X Europeus (como de praxe, as outras equipes só estão pelo caráter universalista de uma competição dita ‘mundial’).

Por curiosidade e por pertencer a nossa seara:

– um árbitro que apite Boca Juniors X Corinthians numa Libertadores receberá 800.00 dólares.

– um árbitro que apite Bayern X Lion pela Champions League receberá 8,000.00 euro.

O futebol daqui pode fazer frente ao de lá dentro de campo, mas no bolso…

Ei leitor-torcedor, estava me esquecendo de cobrar a pergunta lá de cima: o que você prefere? SPFC, SEP, SCCP ou SFC campeões, ou o Paulista vencer uma competição estadual? Não vale muro, hein!

 

 

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