Há dias falamos sobre o horroroso comportamento dos veteranos de uma faculdade de Barretos sobre calouros (TROTE EM BARRETOS). Tão condenável ato parece passar batido… Agora, mais imagens tão ridículas quanto as já citadas em relação ao trote da Universidade de Mogi das Cruzes, mostradas pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
Para quem não viu, teve até beijo de aluno em fígado de boi! Por quê tanta idiotice?
As imagens e link aqui: FANTÁSTICO: CALOUROS HUMILHADOS EM TROTE
CALOUROS LEVAM TAPA NA CARA E LAMBEM COMIDA ESTRAGADA EM TROTE VIOLENTO
O Fantástico mostra cenas revoltantes de um trote de estudantes de medicina. Nossas equipes flagraram tudo, desde a saída da faculdade até a chegada da polícia. São imagens de desrespeito, de agressões físicas e morais. Um absurdo promovido por estudantes que, em breve, vão ter um diploma de médico para cuidar da nossa saúde.São cenas de humilhação em um trote na Grande São Paulo. Um jovem que acabou de entrar na faculdade de medicina é obrigado a ficar com um fígado de boi estragado na cabeça. No grupo que aparece na imagem, há quatro veteranos. Um deles, de camiseta branca, enche a boca de cerveja e cospe tudo no calouro. Ele faz isso três vezes.
Nesta semana em que começaram as aulas de muitas faculdades, as equipes do Fantástico registraram a recepção aos calouros em cidades paulistas. Um grupo de alunos de medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, fez pedágio para arrecadar dinheiro para os veteranos. À noite, teve balada no campus com muita bebida.
Para quem entrou na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, unidade da USP em Piracicaba, uma das festas aconteceu em um sítio. Calouros chegaram a lutar na lama.
Mas o trote mais violento filmado pelo Fantástico aconteceu em um sítio em Mogi das Cruzes, Grande São Paulo. Em um muro na entrada da cidade, o aviso para os calouros, feito pelos veteranos da 37º turma de medicina da Universidade de Mogi: “Se chorar, vai ser pior”.
Desde o começo das aulas, há duas semanas, os veteranos ameaçavam: quem não fosse ao sítio não poderia também frequentar outras festas da faculdade, correndo o risco de sofrer ameaças e constrangimentos durante o curso.
O Fantástico registrou, passo a passo, tudo o que aconteceu na segunda-feira passada (22). Primeiro, os veteranos se reúnem dentro da universidade, que é particular e tem 15 mil alunos. Estudantes do último ano estão de uniforme laranja. Os outros veteranos vestem camiseta branca. E os calouros, camiseta preta e gravata.
Às 11h, todos vão para o centro acadêmico, que fica perto da faculdade.
“Vai, gordão”, grita um veterano.
No caminho, os calouros são obrigados a andar em uma posição incômoda, chamada de elefantinho. Três ônibus foram alugados para o transporte até o sítio, que fica a 17 quilômetros da universidade. Muitos veteranos também chegam de carro.
Até então, o local da festa era mantido em segredo para os calouros. Seguranças controlam a entrada. Às 13h, o trote começa. Uma bomba explode no campo de futebol. Um rapaz dá dois tapas no rosto de um novato. Tudo isso é para forçar os calouros a passar por uma pequena cabana.
Segundo pessoas que estiveram no lugar, os veteranos guardaram comida podre na tal cabana. Há relatos de que os veteranos usaram o fígado de boi estragado em vários momentos do trote.
“Umas cinco pessoas falavam para o cara beijar o fígado de língua. Do contrário, seria arrebentado”, conta uma testemunha.
Mais de 400 pessoas estiveram no sítio. Testemunhas dizem que latinhas de cerveja foram arremessadas na cabeça dos calouros e que, além das agressões, houve muita humilhação.
“Eles cospem na cara. Mandam você ajoelhar e cospem”, descreve uma testemunha.
Um estudante não aceitou beijar os pés de um veterano que, nervoso, jogou caipirinha de limão nos olhos do calouro. Era um dia de sol e até quem não estuda medicina sabe: limão, sob o sol, deixa manchas na pele difíceis de sair.
Os alunos novos ainda pagaram pra participar do ritual de brutalidade. Foram R$ 300 por um kit, que tinha estojo, agenda e a camiseta do trote. Como são 80 calouros, os veteranos do último ano arrecadaram cerca de R$ 24 mil.
Às 17h, policiais são chamados. O caseiro do sítio alugado estava preocupado com a bagunça. Depois de uma conversa com os veteranos, os policiais foram embora. O trote acabou em seguida.
Na quinta-feira (25), o Fantástico entrou no sítio, que foi alugado por R$ 1.150. Foram encontrados vestígios de outro tipo de agressão, que testemunhas relataram ao Fantástico.
No campo de futebol do sítio, os veteranos obrigaram rapazes e moças a ficarem com os braços abertos em uma cruz de madeira. Em seguida, eles foram alvo de um ataque de ovos, farinha e catchup. Alguns deles disseram até que apanharam com peixes apodrecidos.
“Acho legal ter trote, mas não esse absurdo que ocorreu aqui”, diz uma testemunha.
No sitio, foram encontrados vários frascos que, aparentemente, são de soro fisiológico. Mas, segundo testemunhas que estavam na festa, dentro tinha lança-perfume. A droga era consumida livremente.
As imagens do trote foram mostradas para o professor de medicina comportamental José Roberto Leite, de outra universidade, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das mais conceituadas do país na área médica.
“Nós vemos que os veteranos acabam manifestando comportamentos, que eu classificaria até de patológico, doentios, de uma impulsividade, de uma agressividade, que extrapola as normas sociais”, avalia.
O professor diz que a chance de tudo se repetir no ano que vem é grande. “O indivíduo acaba reproduzindo aquilo que sofreu. Ele vai querer subjugar o calouro, sem dúvida nenhuma”.
Dois anos atrás, estudantes da mesma faculdade de medicina sofreram trote semelhante. Na época, pelo telefone, a tia de uma aluna conversou com a TV Diário, afiliada da Rede Globo.
“Tiram a roupa de alguns rapazes, fazem brincadeiras envolvendo coisas como vômito e fezes. Pelo amor de Deus, isso não pode acontecer”, comentou na época.
Esta semana, os pais de pelo menos 40 calouros – metade da turma – procuraram a reitoria da Universidade de Mogi das Cruzes para reclamar. Por causa das humilhações, uma caloura desistiu do curso no dia seguinte ao trote.
O Fantástico foi ao centro acadêmico dos alunos de medicina e também procurou a direção da universidade e os veteranos que organizaram o trote. Ninguém quis gravar entrevista.
Em nota, a Universidade de Mogi das Cruzes disse que todos os anos há reforço na equipe de segurança e que realiza palestras e reuniões contra o trote violento. Alega não ter como se responsabilizar por práticas inadequadas fora do campus, mas diz que os veteranos flagrados podem sofrer de advertência verbal até expulsão.
A mensalidade do curso de medicina de Mogi das Cruzes é cerca de R$ 4 mil. No último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), em 2007, o curso recebeu nota 3, em uma escala de 1 a 5. Três é a nota mínima para que o curso funcione sem intervenção do Ministério da Educação.
“Medicina e medicina veterinária são os cursos onde há maior incidência de trotes violentos. Acabam agindo de um modo completamente agressivo e que não condiz com a profissão que vão exercer”, diz o procurador da República Thiago Lacerda Nobre.
Em setembro do ano passado, o Ministério Público Federal pediu às universidades do estado de São Paulo que tomassem providências contra os trotes.
“Recomendamos às instituições de ensino que garantam a ampla, total e irrestrita segurança dos alunos, dentro e fora do campus”, adianta Thiago Lacerda Nobre.
Na segunda-feira passada (22), sete calouros do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, no norte do estado de São Paulo, sofreram queimaduras durante o trote. A polícia diz que foram provocadas por uma mistura de tinta e creolina, um desinfetante corrosivo.
“Várias pessoas tiveram sequelas perto do olho. Hoje alguém da nossa turma poderia estar cego”, diz o calouro de engenharia civil Ronier Silva.
Além de expulsos da faculdade, veteranos que promovem trotes violentos podem ser presos e responder a crimes como:
– injúria, que significa ofensa à dignidade da vítima, com pena mínima de um mês de cadeia;
– constrangimento ilegal, com pena mínima de três meses;
– e lesão corporal, que também prevê três meses de prisão pelo menos.
“Só vamos acabar com a prática de trotes no país a partir do momento em que todos os responsáveis forem chamados a suas respectivas responsabilidades”, diz Thiago Lacerda Nobre.