Raramente vemos cenas e ações fortes como a destes últimos dias por parte da polícia. Eliana Tranchesi (dona da megaboutique de luxo Daslu) e diretores executivos da Camargo Corrêa (maior construtora do Brasil, com participações na SP Alpargatas – Havaianas, CCR Rodovias entre outras grandes empresas) estão atrás das grades.
A socialite está, vejam só, na Penitenciária Feminina do Carandiru, acusada de contrabando, compra de produtos com notas frias e outros tantos deslizes fiscais.
Já os administradores de empresa são acusados de financiar campanhas políticas de forma ilegal, através de doação de dinheiro aos candidatos e posterior ganho em concorrências públicas para “reaver” esse dinheiro. (inclusive, abordamos com alguns alunos em sala de aula essa questão: os maiores doadores de campanhas eleitorais são os Bancos e as Construtoras. O fazem apenas com o intuito de promover a democracia?)
Veja as duas prisões e suas alegações: (Extraído de Terra Magazine)
Prisão é excêntrica e injusta, diz advogada de dona da Daslu
A advogada da empresária Eliana Tranchesi, dona da loja Daslu, informou, por meio de nota, que deve entrar ainda nesta quinta-feira com um pedido de habeas-corpus na Justiça Federal, para tentar reverter a prisão de sua cliente. A criminalista Joyce Roysen considerou “excêntrica” e “injusta” a ordem de prisão, resultado, segundo ela, de um “julgamento errôneo”. Eliana Tranchesi foi presa pela Polícia Federal (PF) nesta manhã, em cumprimento ao mandado expedido pela juíza Maria Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal de Guarulhos.
A prisão foi determinada pela juíza após a condenação da empresária pelos crimes de formação de quadrilha, contrabando e falsificação de documentos, descobertos na Operação Narciso, deflagrada em 2005. Na época, Eliana foi detida pela PF. Segundo a polícia, os produtos comercializados na Daslu eram comprados de empresas importadoras que subfaturavam o preço das mercadorias com o objetivo de reduzir a incidência do Imposto de Importação. O Ministério Público Federal calculou em US$ 10 milhões o valor que teria sido sonegado.
A advogada da empresária informou ainda que não teve acesso ao pedido de prisão. Segundo ela, a condenação de Eliana Tranchesi no processo é “absolutamente injusta e desprovida de racionalidade”.
“Lamentamos que as pressões exercidas pela acusação desde o início do processo tenham obtido êxito em induzir um julgamento errôneo”, informou na nota. “Vamos entrar com pedido de habeas-corpus e estamos certos de que Eliana Tranchesi terá sua liberdade imediatamente devolvida pelo Poder Judiciário.” “Ha um fato que torna a prisão ainda mais cruel: como é sabido, Eliana está novamente enfrentando um momento difícil na sua luta contra o câncer. No último sábado ela realizou mais uma sessão de quimioterapia, está fragilizada, e deverá se submeter periodicamente a novas sessões”, complementou a advogada.
De acordo com o Ministério Público Federal de São Paulo, também foram condenados e presos o irmão de Eliana, Antônio Carlos Piva de Albuquerque, e o ex-diretor financeiro da Daslu Celso de Lima. A assessoria de imprensa da Justiça Federal, até as 11h, não havia divulgado o teor da decisão da juíza Maria Isabel do Prado.
A assessoria de imprensa da PF informou que outras quatro pessoas que tiveram ordens de prisão expedidas são consideradas foragidas. Pelo menos 30 policiais federais foram deslocados para tentar encontrá-las. Como não se trata de uma nova operação, não devem ser feitas buscas no prédio da Daslu, na zona sul de São Paulo.
Segundo a PF, Eliana foi levada diretamente para a Penitenciária Feminina do Carandiru, onde deve permanecer presa. O irmão dela e o ex-diretor financeiro devem ser levados para a Penitenciária de Pinheiros.
Partidos Políticos negam aceite de dinheiro da Camargo Corrêa
Partidos políticos citados na Operação Castelo de Areia negaram envolvimento com o recebimento ilegal de recursos da construturora Camargo Corrêa. A lista de partidos está citada na decisão do juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, que autorizou os mandados de prisão e busca e apreensão solicitados pelo Ministério Público Federal (MPF).
Procuradas por Terra Magazine, as assessorias das presidências do PSDB, com o senador Sérgio Guerra, e do PSB, com o governador Eduardo Campos, responderam que só vão se pronunciar por meio de nota oficial. A assessoria do PP também enviou uma nota oficial. Seguem os pronunciamentos:
PSDB: “Em diversas campanhas eleitorais, o PSDB recebeu doações da empresa Camargo Corrêa. Todas dentro do que determina a lei e declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme prestações de contas que estão disponíveis inclusive na Internet. O PSDB desconhece que qualquer empresa ou doador tenha atuado fora dos limites legais e condena tal procedimento”.
PSB: “O Diretório Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) informa que a legenda apenas recebe contribuições do Fundo Partidário, dos seus filiados e de empresas brasileiras, em conformidade com os termos da legislação eleitoral.Todas as doações recebidas constam das prestações de contas remetidas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disponíveis naquele órgão. O PSB Nacional desconhece qualquer doação irregular e condena este tipo de prática”.
PP: “A assessoria do Partido Progressista informa que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada pelo TSE”.
PPS: “A Direção Nacional do PPS – Partido Popular Socialista ¿ esclarece que não recebeu nenhuma doação da Construtora Camargo Corrêa e repudia o uso político da Polícia Federal pelo governo Lula para tentar atingir os partidos de oposição. Reitera, também, que o PPS não utiliza e não aceita nenhuma doação de “recursos não contabilizados”. Todas as doações recebidas pelo PPS somente são aceitas dentro dos parâmetros legais e suas contas são fiscalizadas pela justiça eleitoral brasileira. O PPS exige o total esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar criminal e civilmente os autores dessa leviana acusação”.
Os três demais partidos citados – PMDB, DEM, PDT – foram procurados por Terra Magazine, mas ainda não se posicionaram sobre as acusações da Operação Castelo de Areia. Um partido identificado como “PS” também foi citado nas escutas telefônicas, mas ainda não há esclarecimentos sobre qual legenda ele seria.
