A Campanha politicamente correta

Todd Domke, do Boston Globe escreveu; a Revista da Semana (ed Abril, 24/12/07) reproduziu, e eu ouso reafirmar: os americanos, por mais que sejam criticados, são democráticos. Se escolhem bem ou mal seus governantes, ou se o sistema é falível, é outra história. Mas veja que curiosa está a disputa à sucessão de George W. Bush. Qualquer eleito será pela primeira vez um presidente de perfil nunca antes visto na Casa Branca. Eis os pré-candidatos mais fortes:

– Hillary Clinton, seria a primeira mulher na presidência;

– Ruddolphi Giuliani, seria o primeiro ítalo-americano;

– Bill Richardson, o primeiro hispano-americano;

– Barack Obama, o primiro afro-americano;

– Mitt Rommey, o primeiro mórmom. 

Destes, dois serão candidatos, um pelos democratas e o outro pelos republicanos. Todos tem como plataforma a recuperação da economia americana, que pelo quinto ano consecutivo, vira o ano sugerindo recessão.

Obs: Qualquer um dos eleitos sairá do atual perfil WASP, como os americanos chamam (Branco, Anglo-Saxão, Protestante).

Esse tal de ranking…

Novamente divulgou-se o ranking da arbitragem paulista. Alegria aos que subiram, tristeza aos que caíram. Mas lá vai uma singela sugestão: porque não tornar o ranking aberto, com atualizações mensais ou bimestrais, em espécie de campeonato, com pontos em disputa. Em determinada semana, o melhor árbitro seria Fulano, a x pontos de vantagem sobre Ciclano. Conforme a atuação da última rodada, o ranking mudaria. Como isso é trabalhoso, dever-se-ia montar um programa de informatização, onde apenas se inseria as notas e o ranking automaticamente estaria atualizado.

O bom exemplo disso é a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), onde seus concorrentes tem o ranking de entrada e o da corrida dos campeões.

Democraticamente, vale a sugestão? 

A Escolha Diária

 

Como é interessante reviver alguns momentos! Jogando algumas tralhas fora, encontrei um lembrete que fiz à mim mesmo. Se já postei anteriormente, lá vai uma segunda vez:

Mesmo se amanhecer com inúmeros problemas, a cada manhã você terá uma escolha: ficar feliz ou aborrecido; pois os compromissos serão os mesmos daquele dia.

Então, já escolheu o seu humor para hoje?

A Neurose do fina de ano

Fico impressionado em ver a necessidade de algumas pessoas de consumir neste fim-de-ano. Há pessoas que sentem coceira quando tem dinheiro no bolso, e necessitam gastá-lo. Confesso não sentir atração nenhuma em entrar em um shopping lotado para fazer compras, muito menos encarar tediosas viagens e congestionamentos. Se vou viajar, é para relaxar!
Me assusta assistir nas Tvs as intermináveis filas nas rodovias, e as pessoas, de maneira ritualizada, como se fossem obrigadas a ir ao litoral, por exemplo. Por que todos juntos irem à praia? Por que todos saírem nas mesmas datas? Por que as mesmas manias e superstições?
São os costumes. Cada um se diverte da forma que melhor interessar. Nestes tempos, prefiro o sossego e a serenidade. Há o ano todo para trabalhar e ao mesmo tempo se divertir. Só o fato de estar vivo já é uma grande aventura. Não precisa ser nos últimos dias do ano.
Será lamento de quem não foi viajar? Não, já fui viajar. E ao litoral! Que ironia tal comentário…

O Bom mocismo popular

José Geraldo Couto, brilhante colunista da Folha de SP, abrilhantou-nos novamente com um comentário polêmico (sábado 22/12, Caderno Esporte, pg D3) sobre Kaká. Basicamente, atacou o bom-mocismo do atleta, e teceu comentários sobre os bem e mau comportados jogadores. As vezes, reflito e concordo com alguns pontos do mesmo, e, refletindo um pouco mais, acabo discordando. Abaixo, algumas impressões para você comentar:

“A escolha de Kaká como melhor futebolista do planeta não surpreendeu ninguém (…). O que me assustou um pouco foi ouvir no rádio e tv uma porção de gente exaltar o rapaz como “modelo positivo para a juventude”. (…) Não me entendam mal. Nada contra ele casar virgem e estampar na camiseta que ‘pertence a Jesus’. Mas daí a tomar isso como exemplo de caráter vai uma grande distância. Kaká, é bom lembrar, foi um dos primeiros a sair em defesa do casal Hernandes, os líderes da Renascer em Cristo, que foram parar na cadeia por ludibriar a fé dos incautos e sonegar impostos (…)”.
Lembro um episódio ocorrido com o grande ex-jogador e ex-treinador Elba de Pádua Lima, o Tim (1915-1984) (…) Tim era técnico de um grande time do RJ quando, numa peneira, um garoto ansioso por agradá-lo declarou: ‘Não bebo, não fumo nem farreio’. Tim respondeu: ‘Pois aqui você vai aprender a fazer tudo isso’. (…) Millôr Fernades escreveu uma vez que a mais incompreensível das taras é a abstinência. Ernest Hemingway, por sua vez, quando indagado sobre as coisas que poderiam atrapalhar a atividade do escritor, respondeu: ‘Mulheres, bebida e dinheiro. E também falta de mulher, a falta de bebida e a falta de dinheiro’. João Saldanha, sábio do futebol e da vida, ajudava seus jogadores a fugir da concentração para se divertir. (…)
Kaká entregou a alma a Jesus, o dinheiro à Renascer e a virgindade à noiva”.

Diante dessa final frase de efeito, questiono: No frigir dos ovos, Kaká não é o melhor do mundo hoje? E as particularidades do atleta não pertencem só a ele, desde que produza em campo?
Certamente, alguém dirá: Romário foi o Kaká às avessas na sua vida particular, e levou o prêmio de melhor do mundo. Então direi: isso é verdade também.
Assim, como não consigo concordar ou discordar plenamente do sábio José Geraldo Couto, resta uma questão complementar: Daqui a 50 anos, quem terá sido, na memória futebolística mundial, o melhor: Kaká ou Romário?

O Faltoso do senado

Nas universidades, se o aluno extrapola o percentual de 25% de ausência nas aulas, está automaticamente reprovado. E no Senado Brasileiro? Fernando Collor de Melo tem apenas 33% de presença, e quando indagado sobre suas faltas ao trabalho (pago com nosso dinheiro), justificou ironicamente: “Não tenho que justificar minhas ausências a ninguém”.

Que belo exemplo…

As leis árabes

 

Causou espanto, mas ao mesmo tempo deve ser feito um comentário respeitoso, o acontecido em Riad, com a prisão de uma jovem de 19 anos condenada à prisão perpétua.

Pasmaram-se as pessoas quando ouviram a notícia de que a garota fora estuprada ao sair de um shopping em Riad, capital da Arábia Saudita, por três rapazes. Ao ser levada à delegacia local, a vítima foi presa imediatamente. Seu crime? Estava em um shopping sem estar acompanhada de um homem da família, mas de um amigo. Como é sabido, em alguns lugares islâmicos mais radicais, as lojas são exclusivas para homens ou mulheres. Ambientes mistos, apenas entre familiares. Assim, de acordo com a lei, tal situação impediria a imoralidade.

O que pode nos parecer absurdo, é entendível se respeitarmos os costumes árabes. Mas é descabido mesmo assim que a jovem estuprada fora presa (e com pena perpétua) por estar acompanhada de um rapaz em um shopping. Dá-se, infelizmente, a impressão de que o estupro foi um crime menor.

A Guerra do Natal americano

Interessante o artigo publicado pela Folha de SP, na última segunda (17/12/2007), pelo jornalista Sérgio Dávila, enviado especial à Dês Moines (Iowa), EUA. O mesmo retrata o episódio recente batizado de “Guerra do Natal”, onde comerciantes, comerciários, população e Igreja se debatem na questão: é politicamente correto desejar Feliz Natal aos consumidores?
Alguns argumentam que por ser uma festa cristã, e nos EUA existirem grande número de judeus, mulçumanos e ateus, e estes não celebrarem o Nascimento de Cristo (Natal=Natalidade=Nascimento), seria um importuno muito grande para essa parcela ter que conviver com tal cumprimento e com a própria celebração. No entanto, algumas cadeias de lojas aderiram ao modismo, orientando a seus funcionários que desejassem “bom feriado” ou “boas festas de descanso”. Em contrapartida, outras redes orientaram à exaltação do Happy Christmas.
Se formos extremamente politicamente corretos, o feriado seria uma data de guarda exclusivamente aos cristãos, de qualquer profissão de fé (católica, evangélica). É uma prova da separação do Estado e da Igreja. Mas a qualquer fiel, de qualquer crença, não respeitar a sua festa religiosa é blasfêmia. E por esse prisma, se formos politicamente corretos ao extremo novamente, também temos que respeitar esse argumento.
Talvez o problema maior seja o desvirtuamento do sentido do Natal, que passa de uma festa religiosa a uma festa comercial. E isso há um bom tempo, desde que a Coca-Cola criou a imagem do bom velhinho, que se tornou Papai Noel, que substituiu a tradição cristã de São Nicolau.
Em tempo: o Natal é a segunda festa mais importante aos cristãos, sendo a primeira festa a Páscoa de Cristo.

A Finasterida e o Romário

E novamente o baixinho está envolvido em polêmica. Mas parece não estar nem aí para a mesma, e particularmente, acho que faz bem em agir assim.
O atleta foi flagrado no exame anti-doping, após disputar a partida Vasco 02 X 02 Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro, acusando o uso de Finasterida. Diante disso, ele teria direito a uma contra-prova do exame, mas acabou abrindo mão dela, devido à certeza do que havia tomado.
A Finasterida estava presente no TÔNICO CAPILAR do atleta, e não melhora nem piora o rendimento da prática esportiva. Bem humorado, o próprio Romário avisou que houvera ocorrido o resultado positivo para a droga.
Com 41 anos, apresentando sinais de calvície e vaidoso como é, dificilmente acreditaria-se que um talentoso craque de futebol pudesse se dopar com tal substância. Embora não seja julgador nesse caso, mas como observador, acredito piamente que não houve intenção alguma para dolo, apenas um descuido de um atleta em final de carreira.
Mas por que a Finasterida é considerada substância proibida pelos organismos esportivos? Simplesmente pelo fato da mesma mascarar outras substâncias dopantes, e destas, como principais, os esteróides anabolizantes. Ou seja: péssimos exemplos de atletas utilizam drogas diversas para potencializar seu rendimento, e tomam esse tônico capilar para encobrir o doping.

Castello Branco e o Presidente Lula, segundo Élio Gáspari

Compartilho texto publicado pelo jornalista ítalo-brasileiro Élio Gáspari, extraído do jornal “O Globo” (ed 07/12/2007),  enviado pela exemplar aluna Rosiele Vignoli.

Obs: Inicialmente, ressalto que o texto não é apologia ao marechal ditador, apenas um cumprimento da atitude digna do governante da época frente ao referencial atual:

 

“Castello Branco e Lula

Ao ver Lula defendendo seu filho que recebeu R$ 15 milhões de reais da TELEMAR para tocar sua empresa, Élio Gáspari publicou essa história buscada no fundo do baú:

Em 1966 o presidente Castello Branco leu nos jornais que seu irmão, funcionário com cargo na Receita Federal, ganhara um carro Aero-Willys, agradecimento dos colegas funcionários pela ajuda que dera na lei que organizava a carreira. O presidente telefonou mandando ele devolver o carro. O irmão argumentou que se devolvesse ficava desmoralizado em seu cargo. O presidente Castelo Branco interrompeu- o dizendo:

“Meu irmão, afastado do cargo você já está. Estou decidindo agora se você vai preso ou não”.

E o Lula ainda ‘sonha’ que não existe ninguém nesse país com mais moral e ética que ele. ”

Élio Gáspari

O Imperativo dominador 2

Há alguns dias, escrevi sobre os imperativos dominadores das nações e quais seriam as próximas tendências. Gostaria de mudar, ou melhor, ponderar o artigo anterior, postado em: http://rafaelporcari.blog.terra.com.br/o_imperativo_dominador
Meu motivo é forte: tenho acompanhado os passos da Conferência de Bali, onde as nações estão discutindo desde os resultados do protocolo de Kyoto e seu futuro, até o que realmente será necessário para a sobrevivência do planeta. E diante das conversas sobre créditos de carbono, sobre recursos econômicos de defesa do verde, e sobre zonas internacionais de proteção ambiental, vislumbro uma nova possibilidade (que na prática não ocorrerá), que é a do Ecoterrorismo. O imperativo econômico do século 21 poderá ser o … mato! O verde, as plantas, a Amazônia, enfim! Com o fim das áreas verdes, na era do desmatamento desenfreado, as nações poderão trocar a preservação das florestas por generosos recursos financeiros, usando argumentos de que “poderiam desmatar para criar novas áreas de plantio de alimentos”, ou “desmatar para exploração de recursos”, ou, ainda, “desmatar para plantar bioenergia, como o álcool”.
Decerto, vale pensar que quem tiver maior área de preservação ambiental pode ganhar mais dinheiro. Ou pensar que quanto mais florestas, mais riscos de invasão estrangeira “em nome da defesa do planeta”, procurando criar um cinturão verde de preservação.

Desejando a volta da cpmf já!

Calma, não achem que fiquei maluco. É apenas uma introdução simplista para começar a explanar as razões que levaram um imposto tão inteligente e necessário a um nefasto instrumento de arrecadação.
Nos idos de 90, o IMF, como foi criado, tinha a única intenção de socorrer a saúde pública. Entretanto, passou a se chamar IPMF, acrescentando o termo provisório apenas para dizer que estava no fim. Na sua volta derradeira, o “Imposto do Cheque”, que nunca foi só do cheque, pois movimentava toda e qualquer transação financeira, ganhou o status de contribuição, arrecadando, neste ano de 2007, aproximadamente R$ 40 bilhões, para toda e qualquer gastança pública.
Alguns países da América Latina também adotaram esse imposto, a exemplo do Brasil, já que tais cifras engordam verdadeiramente os cofres públicos. Porém, é um encargo maldoso, pois fere indistintamente ricos e pobres. Se qualquer brasileiro sacar da poupança 1 mês de rendimento, sua aplicação financeira terá, aproximadamente, 60 % de perda devido aos 0,38% cobrados.
Mas por que intitulei este post desejando a CPMF novamente?
Pelo simples fato de que há anos tal tipo de cobrança poderia ter sido defendida como Imposto Único Brasileiro. Já imaginaram que maravilha? Um só imposto no Brasil; com uma carga tributária coerente, é claro. O problema é que a CPMF sempre foi MAIS UM imposto, e não o único imposto.
Por fim, a Europa discute, atualmente, a implantação de tal medida e sua viabilidade por volta de 2011. Isso quer dizer que nós, brasileiros, estamos na vanguarda, ou é ilusório imaginar que os nobres parlamentares farão essa vontade popular?
Lembrando apenas: Mesmo sem a CPMF ter sido votada (e derrotada) para 2008, o governo já havia incorporado no Orçamento Geral da União tais recursos.
Mas que vontade de arrecadar…
Não seria mais fácil gastar melhor o dinheiro público, findar a autopromoção estatal e as mordomias administrativas?

Eu sou contra a CPMF como ela sempre foi, mas a defenderia nesta nova roupagem, a de imposto único. E você?

A Transposição do São Francisco

Muitas vezes, os interesses escusos estão acima da necessidade popular. Tenho acompanhado a greve de fome do Bispo Dom Luiz Cappio, contra a não-discussão da transposição do Rio São Francisco. A queixa, em si, não é contra a transposição dessas águas, mas a não participação dos envolvidos no processo para a discussão da real necessidade da transposição. Há pouco tempo, confessava-me incompetente para a discussão de tal tema. Mas, após um acompanhamento e estudo do caso, concluo que o benefício de tal obra seria de nenhum acréscimo às pessoas de baixa renda, de impacto ambiental desnecessário e de grande desperdício de dinheiro público.
Sintetizo meu ideal contra tal obra com um artigo do ex-governador sergipano João Alves Filho, reproduzido pela Folha de São Paulo em 07/12/2007, pg 3. (ops: nenhuma conotação política ao texto, mas apoio às idéias e ideais da não-transposição):

D. Cappio e o mito da falta d`água
Por João Alves Filho
D. Luiz Flávio Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento

Com a retomada da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula e seus áulicos tentam passar a imagem de que ele é um fanático religioso. O ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, ousa desrespeitosamente associar a imagem do bispo a uma espécie de fundamentalista islâmico.

Na realidade, d. Cappio é um líder religioso profundamente comprometido com sua principal missão, que é divulgar a fé aos sertanejos e levar a eles os eternos ensinamentos de Deus, mas sem desconectá-los do mundo injusto em que habitam.

Daí por que, convencido de que quem convive com a miséria não tem serenidade para cultivar dignamente a religião, se empenha em extirpar a miséria, defendendo os sertanejos daqueles que tentam legitimá-la com demagogia e promessas enganosas.

Trata-se de um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição. Um estudioso das técnicas de convivência com as secas e equacionamento dos recursos hídricos locais tão simples e baratas que os chineses e os indianos as praticam com sucesso há milênios em regiões de climas bem mais hostis do que o nosso.

D. Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento. Primeiro, a transposição não é destinada a salvar os nordestinos da seca, pois apenas uma minoria irrelevante do semi-árido receberá água na porta, mas se destina ao agronegócio, que utilizará uma água caríssima, levada a 700 km, que terá que ser subsidiada a vida inteira. Porém, temos milhões de hectares de terras à beira do rio cuja irrigação, sem subsídio, proporcionaria alimentos baratos e geraria 1 milhão de empregos.

Segundo, o governo, maquiavelicamente, esconde uma realidade que surpreenderia a nação: não há falta de água no Nordeste setentrional, mas, isto sim, ela existe em abundância tal que, teoricamente, daria para abastecer 100% dos nordestinos.

Terceiro, o rio São Francisco está na UTI e a transposição ameaça provocar sua morte, gerando o maior desastre ecológico e socioeconômico da história brasileira.

Quarto, Lula mentiu para conseguir a interrupção da primeira greve de fome de d. Cappio, certamente com receio das conseqüências para a reeleição, com promessas enganosas de que iria parar a obra da transposição para discutir com ele, com membros da sociedade civil e ecologistas que têm propostas alternativas, demonstrando tecnicamente projetos racionais para levar água na porta pela metade dos custos para a totalidade dos dez Estados do semi-árido nordestino e mineiro. Por dois anos, o bispo esperou pacientemente a abertura do prometido diálogo, mas a resposta de Lula foi ameaçadoramente mandar o Exército iniciar a obra.

Por falta de espaço, não posso aqui detalhar o gigantesco manancial de água disponível nos Estados do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba, explicando a simplicidade do supracitado projeto alternativo. Faço, contudo, um convite ao ministro Geddel, que executa a obra que tanto combateu, para um debate aberto, para que a nação saiba de toda a verdade sobre essa obra freneticamente aplaudida pelos empreiteiros, seus felizes apaniguados, pelo agronegócio retrógrado, que pleiteia água subsidiada, e pela indústria da seca, que, após sua conclusão, continuaria abastecendo os famigerados carros-pipas e as latas d’água na cabeça da pobre gente dos próprios quatro Estados “beneficiários” da obra da transposição, que, tardiamente, compreenderia que foi a principal enganada pelo governo Lula, que fomenta a cizânia entre irmãos nordestinos.

Finalmente, uma ponderação final para que o presidente Lula, que, do alto de sua autolouvação, costuma ser infenso a conselhos, avalie melhor o artigo de frei Leonardo Boff, que, com a autoridade de ex-professor do então seminarista dom Cappio, com quem ele já se destacava por “uma aura de simplicidade e santidade”, advertiu: “Entre o povo que não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do povo. Irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha pelo futuro afora?”.
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JOÃO ALVES FILHO, 66, é engenheiro civil. Foi governador de Sergipe por três mandatos (1983-87, 1990-94 e 2003-06) e ministro do Interior (gestão Sarney). É autor de, entre outros livros, “Transposição de Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica”.
jafsergipe@gmail.com

O Bebedouro da Discórdia

Cansamos de ouvir falar sobre leis que não funcionam ou cuja praticidade é comprometida pelo mau funcionamento dos órgãos de fiscalização. Há outras que atendem certos interesses particulares, e que nunca beneficiam a população. Por fim, há aquelas que efetivamente não pegam. Lembram da lei dos 6% de juros anuais?
Pois bem: o vereador paulistano Carlos Gianazi propôs, e ganhou apoio incondicional da também vereadora (e possível candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB, desde que saiu do PT) Soninha Francine, a respeito da obrigatoriedade das casas noturnas possuirem um certo número de bebedouros em suas pistas de dança. Motivo: o excessivo consumo de ecstasy pelos jovens.
Calma, você não entendeu tudo errado. É isso mesmo: o ecstasy, droga sintética “em moda” nas casas noturnas e festas raves, causa secura na boca, e potencializa o efeito da droga no usuário. Assim, o nobre parlamentar sugere que com a instalação de bebedouros, o consumo de ecstasy não seria tão nocivo.
Não seria mais fácil incentivar o não-consumo das drogas? Aumentar a fiscalização, combater o tráfico e orientar os jovens sobre os reais efeitos?
A própria Soninha, segundo a coordenadora da plausível campanha Jovem Pan pela vida contra as drogas, Izilda Alves, declarou que não se pode encarar isso como lei de incentivo às drogas, mas sim como (pasmem) “questão de saúde pública em respeito aos usuários de substâncias psicoativas”.
Se eu fosse político, meu discurso começaria como os demais, mas seria neste tom:
“Nobre colega, vossa senhoria sabe a asneira que está defendendo?” OPS – melhor parar por aqui, pois tal estúpido incentivo pode me levar a falar ou escrever bobagens.
Durma-se com um barulho desses…