– A Importância em se Discutir, Interpretar e Conhecer a Regra: o dificílimo e confuso lance de Santos X São Paulo

Ontem, na partida Santos X São Paulo, ocorreram lances polêmicos no jogo. Em especial, um gol anulado de Luís Fabiano pela bandeira Tatiane Sacilotti.

Independente se houve erro ou acerto (discutiremos a seguir), gostaria de registrar: durante o final do domingo e madrugada desta 2a feira, muitos criticaram a moça de forma desrespeitosa, convidando até mesmo à invasão dos perfis dela nas redes sociais. Torcedores fanáticos, é claro. Adjetivos ofensivos e outras imbecilidades foram ditas contra ela. Ora, errar e acertar faz parte do esporte. Atletas erram, árbitros também. É do jogo, principalmente em lance difícil como aquele.

Conheci a Tatiane desde o começo da sua carreira e sei do seu esforço, do seu trabalho e do seu mérito. Criticar o lance respeitosamente vale; ofensivamente, não.

Sobre o ocorrido, entendi que ela acertou e já fiz minhas considerações pós-jogo nos links:

Blog do Prof Rafael Porcari: http://professorrafaelporcari.blog.terra.com.br/2013/02/03/analise-dos-lances-polemicos-de-santos-x-sao-paulo-vila-belmiro-03022013/

Blog “Pergunte ao Árbitro”: http://pergunteaoarbitro.blog.terra.com.br/2013/02/03/analise-dos-lances-polemicos-de-santos-x-sao-paulo-vila-belmiro-03022013/

Blog do Jornal Bom Dia / Diário de São Paulo:  http://www.redebomdia.com.br/blog/detalhe/17030/Santos+X+Sao+Paulo%3A+analise+dos+lances+polemicos

É claro que minha interpretação da jogada é e vai ser contestada. Poucas pessoas entenderam o lance como impedimento bem assinalado. Porém, pelo tipo de jogada, é mais provável se interpretar como gol legal mal anulado. E tal entendimento – que pode ser correto e é bem fundamentado por pessoas que entendem do assunto, como Sálvio Spínola, Fernando Sampaio, Leonardo Gaciba, se deve pela interpretação do lance, pela análise das condições que legitimam ou não um impedimento.

Portanto, ilustro dois pontos de vista – que não devem ser considerados absurdos mas sim possíveis pela própria regra assim permitir. Vamos a eles?

  • 1- Gol mal anulado: Aqueles que entendem como erro a anulação do gol, entendem que Rodolpho não participou ativamente da jogada, tampouco atrapalhou seus adversários durante o lance. Rodolpho estava em impedimento passivo na origem do lançamento, e como Luís Fabiano é quem domina a bola, o zagueiro do São Paulo em nada interfere no gol.
  • 2- Gol bem anulado: Aqueles que entendem como acerto a anulação do gol, entendem que Rodolpho participa da jogada por interferir contra o adversário, já que, embora não toque na bola, leva um zagueiro a correr com ele, confundindo o zagueiro Neto que não sabe da posição de impedimento, passando de passivo a ativo.

São duas interpretações, ambas com embasamento e apoiadas no detalhe da Regra 11 – “Impedimento: interferir contra um adversário”.

Lembre-se: devemos avaliar sempre se o atleta “1-interfere na jogada”, “2-interfere contra um adversário” ou “3-se beneficia da vantagem da posição em que se encontrava”.

Talvez a grande dificuldade é a subjetividade do que é “interferir contra um adversário”. Para resolver isso, nas diretrizes da Regra 11 está publicado no texto original que:

  • 1-“interfering with play” means playing or touching the ball passed or 
touched by a team-mate .
  • 2-“interfering with an opponent” means preventing an opponent from 
playing or being able to play the ball by clearly obstructing the opponent’s line of vision or movements or making a gesture or movement which, in the opinion of the referee, deceives or distracts an opponent.
  • 3-“gaining an advantage by being in that position” means playing a ball that rebounds to him off a goalpost or the crossbar having been in an offside position or playing a ball that rebounds to him off an opponent having been in an offside position.

Para mim, Rodolpho se encaixa na situação 2: “distrai a atenção de um oponente”, passando de atleta em impedimento passivo para ativo ao partir em direção à bola com o adversário Neto tentando a alcançar. O zagueiro do Santos FC não poderia ter abandonado a disputa com Rodolpho e tentado ir em direção ao Luís Fabiano, caso este não fosse à bola? Vide que o próprio Neto quase a alcança, estando entre o próprio Rodolpho e Luís Fabiano na hora da cabeçada. Levo em conta, ainda, que Tatiane Sacilotti espera justamente a conclusão da jogada para erguer seu instrumento, já que ela estava muito bem colocada no lance.

Claro, são considerações da minha interpretação, respeitando, como já houvera dito, a daqueles que entenderam como lance normal e Rodolpho como passivo.

Mesmo diante de tudo isso, repito, a subjetividade do que é “interferir contra um adversário” é grande. Veja dois lances abaixo (das diretrizes da FIFA), que falam sobre isso: na primeira figura, sem interferência. Na segunda, com interferência:

261.png

Na figura acima (figura 8), uma bola é lançada para um atleta em posição de impedimento, bate no zagueiro e vai para a linha de fundo. Deve-se marcar escanteio pois ele estava longe, no bico da área, mesmo se movimentando conforme o tracejado em laranja. (impedimento passivo – vale a pena ler o texto da figura).

Agora, observe o outro detalhe abaixo:

262.png

Nesta outra figura (figura 9), uma situação bem parecida: lançamento a atleta em posição de impedimento, bate no zagueiro e vai para a linha de fundo. Mas, repare que o texto cita que o atleta distraiu a atenção do defensor ao se movimentar. Não é escanteio, mas sim impedimento!

Agora, veja ainda outro exemplo da FIFA: substitua as ilustrações abaixo (figura 3) pelos jogadores do clássico de ontem (claro que a bola é lançada mais à esquerda, mas será irrelevante para o entendimento):

260.png

Luís Fabiano será o jogador que ataca “B”; Rodolpho o jogador que ataca “A”; os atletas em azul são os defensores.

Repare que A está em posição de impedimento, mas B não está. Ambos vão em direção a bola (conforme o tracejado em laranja). Se B fizer o gol (como fez), deverá ser validado pois A não toca a bola – é a situação de quem entende que Rodolpho não interferiu no lance.

Entretanto, veja que na ilustração os jogadores do time que defende estão em posição estática, ao contrário daqueles que atacam. Na prática, é aquela jogada em que os defensores ficam “vendidos”, atrasados num lance rápido. Não foi o ocorrido de ontem. O zagueiro que está mais próximo de A (Rodolpho) corre com ele e depois tenta abordar B (Luís Fabiano), não conseguindo alcançá-lo. Visualize a figura e imagine: se não existisse o atleta A naquele momento, o defensor não poderia tentar interceptar B com mais sucesso?

É claro que futebol não se apita com livro embaixo do braço, muito menos se é permitido pensar em tudo isso no calor do jogo. No conforto de nossos lares, munidos de nossas anotações e equipamentos tecnológicos, é mais cômodo. Mas a Regra não é assim?

Insisto: respeito as interpretações contrárias (que são a maioria e também aceitas). Mas fico com essa.

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